Intolerância e Abuso de poder

Publicado hoje, no Jornal A Tarde - Caderno2
Por Eduarda Uzêda
Foto: Marco Salgado - divulgação


Encenada pela primeira vez em 25 de setembro de 1966, no Rio de Janeiro, a peça O Santo Inquérito, de Dias Gomes (1922 -1999) ganha versão baiana. Trata-se do espetáculo Branca , que entra em cartaz de sexta a domingo, às 20 horas, no Teatro Vila Velha.

Clássico da dramaturgia nacional, conta a história de uma corajosa jovem paraibana, descendente de cristãos novos (os judeus recém-batizados), que enfrenta e sofre juntamente com seu intrépido noivo as acusações e as torturas do Tribunal do Santo Ofício ou Inquisição.
A montagem, que estreou no final de março, em Quito, no Equador , durante o III Encontro de Mestres em Teatro da América L atina, com boa receptividade por parte do público, tem concepção e direção do cubano Luis Alberto Alonso, radicado há quatro anos na Bahia, que também assina a trilha sonora.

SUCESSO– “Branca representou o Brasil, sendo considerado o melhor espetáculo do encontro, levando mais de 700 espectadores ao teatro em uma única apresentação”, frisa o diretor, que informa que participaram do evento aproximadamente 250 artistas de vários países da América Latina, a exemplo do Peru, Equador, Colômbia, Venezuela e da Argentina.

Ainda segundo Alonso, embora algumas modificações tenham sido feitas na montagem, a essência do texto foi preservado, assim como a intenção de Dias Gomes de denunciar a intolerância e a opressão e de mostrar que a dificuldade comunicação dos homens pode se transformar em uma terrível fonte de mal-entendidos e problemas.

Em cena, atores que integram o Oco Teatro Laboratório, que desenvolve uma estética baseada no conceito do espaço oco, o espaço vazio, onde os intérpretes fazem uma representação explorando um conceito minimalista da encenação. Formado inicialmente pelo ator baiano Rafael Magalhães e o diretor cubano Luis Alberto Alonso, o Oco Teatro Laboratório levou cursos e palestras a diversas cidades brasileiras e vários países.

IMPOSIÇÃO DA FORÇA – Luis Alberto Alonso diz que escolheu revisitar a Inquisição no Brasil em virtude da força que a intolerância vem adquirindo no momento contemporâneo, acrescentando que os atores Rafael Magalhães (também responsável pela preparação corporal), Viviane Souto Maior, Mario César, Andréa Mota e Virgilio Souza ocupam um palco onde há somente um praticável, que na segunda parte do espetáculo serve como cárcere e tribunal.
Ainda segundo o diretor, a mudança do nome da peça para Branca tem a intenção de reforçar o papel do feminino na trama, que mostra a ação da Santa Inquisição, também conhecida como Santo Ofício, um tribunal eclesiástico criado com a finalidade de investigar e punir os crimes contra a fé católica.

Na prática, a Inquisição era um recurso para impor à força a supremacia católica, exterminando todos os que não aceitavam o cristianismo nos padrões impostos pela Igreja.
O desenho de figurino é de Zuarte Junior. O cenário, de Luis Alberto Alonso e Julio Cesar e os adereços de Luiz Claudio. A pesquisa histórico-musical e de Débora Judith Arber.

O AUTOR – O escritor e dramaturgo Alfredo de Freitas Dias Gomes nasceu em Salvador, em 19 de outubro de 1922. Tornou-se nacionalmente conhecido em 1960, quando foi encenado O Pagador de Promessas pelo Teatro Brasileiro de Comédia, sob a direção de Flávio Rangel.
A versão cinematográfica da obra, dirigida por Anselmo Duarte, conquistou a Palma de Ouro do Festival de Cannes de 1962, além de outros prêmios nacionais e internacionais.

Na década de 1960, Dias Gomes escreveu peças como A Invasão, A Revolução dos Beatos, O Santo inquérito e O Berço do Herói, algumas proibidas pela censura. Na TV, escreveu, entre outras, as novelas Verão Vermelho, O Bem-Amado, Saramandaia e Roque Santeiro. Foi casado com Janete Clair, famosa autora de novelas.

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