Teatro feito por várias mãos


Lulu Pugliese, Fabio Ferreira e Daniel Guerra

Imagine sair de casa para ir ao teatro e, chegando lá, perceber que você também será um dos responsáveis pelo andamento da peça? Parece loucura? Mas não é. É mais ou menos isso que o projeto O quinto criador: o público propõe. “Faço doutorado na UFBA e estou estudando a relação do espectador com a obra de arte, a recepção. No meu caso, a ênfase é no teatro. No exterior, tem muita gente trabalhando dessa forma. Ou seja, tirando o espectador do lugar de passividade. Aqui ele também cria a cena”, revelou a coordenadora artística do projeto, Cristiane Barreto, 37 anos. A dinâmica d’O quinto criador é bem curiosa: o elenco é fixo, o diretor e o dramaturgo são convidados. A cada espetáculo, o dramaturgo sugere dois temas e o público elege aquele que quer ver no palco. Daí, através das sugestões dos espectadores, os atores desenvolvem a cena. O diretor organiza o jogo teatral diante do público. Certamente, não há fazer teatral mais coletivo.

Estreia
Integrando o projeto O Que Cabe Neste Palco, do Teatro Vila Velha, O quinto criador: o público estreou ontem, no Cabaré dos Novos. O diretor convidado foi Daniel Guerra e Aldri Anunciação, o dramaturgo. A trilha sonora ficou por conta de Adriana Prates. Os temas propostos por Aldri foram : 1) O dia em que os rios e os mares sumiram; e 2) Eu moro em uma faixa de pedestre. O público escolheu o 2º e os atores Bruno de Sousa, Gabriel Camões, Fábio Ferreira, Igor Epifânio, Milena Flick e Lulu Pugliese tiveram a incumbência de representar as ações sugeridas pela plateia.

Quem assistiu ao espetáculo, se deparou com uma aula de teatro típica, cheia de metalinguagens e repetições para se chegar à perfeição. As experimentações e dramaturgia não linear conferiram um caráter de confusão à peça e trouxeram graça à apresentação. Mas nem todo mundo riu. O professor de teatro, Júnior Lopes, 31 anos, fez severas críticas ao espetáculo. “Eu não gostei. Achei o tema ruim. Nada motivador. A ideia de o público criar ficou meio solta e foi constrangedor. Acho que é válido como proposta teatral para ver o quanto o público participa do processo de criação. Mas não teve dinâmica e faltou algo mais definido. Não entendi a presença do dramaturgo e o diretor estava atuando mais que os atores”.

Para o diretor Daniel Guerra, 25 anos, a experiência foi válida. “Foi lindo e divertido. Eu conheci atores abertos e generosos, dispostos a se arriscar”. Aldri Anunciação, 39, encarou como um bom desafio participar do projeto. “Achei uma loucura desafiadora. Foi interessante escrever durante o processo de criação dos atores. Foi bastante desafiador”. Igor Epifânio, 32 anos, afirmou que, apesar de ter tido um momento de crise, tudo deu certo no final. “Eu achei bacana. Me senti, realmente, jogando, colhendo informações com o público. Aqui era um lugar para o público propor. Houve momentos de crise, em que a plateia ficou meio sem entender a lógica. É claro que se tivéssemos de apresentar novamente, muita coisa seria modificada. Mas a gente conseguiu chegar no objetivo”.

Hoje tem mais
O projeto O quinto criador: o público vai até o dia 23 de outubro, sempre às segundas e terças-feiras, às 20h, no Cabaré dos Novos do Teatro Vila Velha. O ingresso custa R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). As reservas podem ser feitas pelo telefone 3083-4600. Mais informações sobre O quinto criador: o público estão neste link: www.oquintocriadoropublico.blogspot.com.br. Hoje, a dramaturgia fica por conta de Thais Alves, que propôs os temas “Toda forma de amor vale a pena − amores líquidos” e “Sociedade da espetacularização ou espetacularidade”. E aí, qual tema você escolhe?

Texto: Raulino Júnior
Foto: Alessandra Novhais

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