Drácula no cinema e no teatro



Espetáculo Drácula (foto Tai Oliver)

O cinema e o teatro são linguagens diferentes, mas possuem uma construção dramática para o desenvolvimento da obra. Faço aqui então um comparativo de obras baseadas na história do Drácula, que foi dramatizado no romance de Bram Stocker em 1897, sendo a melhor versão para o cinema, Drácula de Bram Stocker (1992), baseada na obra literária original e adaptada para o cinema por Francis Ford Coppola. Já no teatro Drácula é o mais novo espetáculo do diretor Marcio Meirelles, baseado também no célebre romance de horror, por sua vez acompanhado pelas interfaces entre o teatro, a tecnologia e as novas mídias.


Os recursos para provocar uma determinada emoção usando o cinema e os teatros são bem diferentes. No cinema estamos a mercê do diretor ele escolhe o que e como iremos acompanhar a narrativa. No cinema a cena é realista e pode ser composta por uma montagem artificial feita a partir das decisões do diretor. A transubstanciação para o formato de filme conta a história do conde Vlad de diversos pontos de vista, em momentos do próprio conde, em outros, através das cartas do Jonathan ou pela narração do Professor Van Helsing. O roteiro é dinâmico e sempre busca localizar o espectador em viagens através de Londres e a Transilvânia. Viajando por mapas, em navios ou carruagens, sempre por locações amedrontadoras tomadas por sombra ou névoa, clima muito bem trabalhado nos filmes de terror.

O teatro é disposto em um palco aberto, então o espectador pode escolher o que quer acompanhar, que ator ele quer ver. O teatro não tem os recursos tecnológicos do cinema, mas podem revelar como as situações acontecem através de ações e reações e com uma profundidade que só as palavras podem alcançar. Profundidade essa que é verdadeira alcançada pela dramaturgia, pois o real aqui não é possível.  Por sua vez, na transubstanciação para o teatro do romance Drácula, a montagem é inovadora, a posição do protagonista é revista, não há um ator para interpretar o Drácula, há uma série de projeções percorrendo a sala de teatro, com palavras e imagens que contracenam com os atores. Esse novo modo de construção trouxe o tema do romance, que é a criação de um mito, utilizando de todos os meios disponíveis. 

Na adaptação os personagens e as situações em que se encontram servem se apoio e substrato para sua construção. Um filme ou uma peça de teatro baseados em obras literárias são entendidos como uma leitura do áudio, vídeo e representações dos atores, e podem ser moldadas de acordo a vontade e percepção dos diretores e roteiristas. As obras são o resultado da leitura de cada um, roteirista ou diretor, seja ele qual for quem tenha realizado a obra. Sabemos que nunca será igual ou totalmente fiel a obra romântica.

Desse modo o diretor Marcio Meirelles opta pela representação de Drácula somente em vídeo. Nenhum ator aparece como o vampiro, mas a alusão ao seu poder de destruição se torna grande. A peça busca falar indiretamente sobre as questões com a morte, com o desconhecido e com os monstros que nós criamos e temos que enfrentar.

Já no filme, Coppola aderiu a um visual gráfico e estilizado. A Transilvânia é vermelha, cheia sangue e sombras, e a perduração do filme acaba dependendo mais das imagens do que dos atores. O roteiro é cheio de becos sem saída que começam cedo na história, e imprime uma narrativa ligeira, com trinta minutos de filme parece ter passado, pelo menos uma hora. Mas talvez isso seja um problema ocorrido no livro e acabou sendo trazido para o cinema. A adaptação tenta de certo modo ser fiel, pois assim como no livro o filme também fornece informações provenientes de diários, cartas. 

No filme os cenários e figurinos são muito bem estilizados, e possuem uma mistura que remete ao teatro e quadrinhos ao mesmo tempo, com cores vivas e figurinos espetaculares.

No teatro a ideia de figurino do diretor é bonita e interessante, e trabalha certa dualidade. Os atores usam vestido branco e um casaco comprido preto. A extremidade entre as cores preta e branca e entre o feminino e masculino se encaixa com a proposta da montagem, que trata de luz/sombra, bem/mal, noite/dia, etc.
No palco os inúmeros vídeos que são projetados simultaneamente às cenas, transportam o espectador para a época em que os fatos acontecem. Por sua vez, a banda musical que aparece em cena, que são os próprios atores tocando, remete ao século atual, mostrando os dois mundos.

Em Drácula de Bram Stoker existe uma grande quantidade de personagens, alguns talvez até dispensáveis. Provenientes da quantidade de informações adaptadas do romance podem estar ali somente para afirmar o filme como adaptação fiel, o que pode talvez até prejudicar um pouco o desenvolvimento dos personagens.

A obra literária trás muito de cartas documentos, reportagens de jornais, diários e etc. Sendo assim, na obra de Marcio Meirelles o recurso da narração é por muito tempo empregado pelos atores. Em alguns momentos os interpretes poderiam investir melhor nas palavras, no sentido das imagens que elas podem resultar. Se a leitura é rica em imagens o texto sai vibrante. Se for uma leitura morna o texto sai sem graça.

Aliada a boa direção de Coppola, há uma bela direção de fotografia, que provavelmente rege tributo há grandes filmes de terror. Há momentos muito bem pensados e produzidos, por exemplo, quando Drácula está voando em direção à sua vítima, atravessando a cidade e pátios, a câmera voa pelos objetos, persegue as pessoas. O filme também é composto com uma bela e característica trilha sonora.

O Drácula de Copolla é um filme visual, os movimentos de câmera valorizam cores e formas em cada enquadramento, tornando o filme bastante atraente pela beleza plástica sem abrir mão dos efeitos gráficos.

No Drácula de Marcio, são boas as projeções expostas na sala de espetáculo, quando associadas às metáforas e nas cenas de Drácula no cinema. Entretanto, em alguns momentos, perdem a força quando são muito ilustrativas. Onde já há pronunciações no texto não seria necessário ilustrar, ou até mesmo repetir as ilustrações.

*Texto de Jéfter Filipe da Silva Duarte, aluno do 4º semestre de Produção Audiovisual da UNIJORGE.
Texto elaborado para as disciplinas Oficina de Leitura e Escrita – professor Sérgio Rivero e Técnicas de Elaboração de Roteiro – professora Silvana Moura.

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