As faces de “Drácula”

Foto João Milet Meirelles

Adaptar com certeza é um desafio. Livro, cinema, Tv e teatro tem liguagens próprias e adaptar uma obra de um formato para o outro requer muita atenção e criatividade.

É importante ressaltar que uma adaptação deve ser analisada pela sua funcionalidade dramática e não pela sua fidelidade ao texto de origem e que o vital para uma transubstanciação é a sua história e não os personagens que estão presentes.

Para começar, uma característica em comum que auxilia na adaptação é que todos os formatos (Teatro, Cinema e TV) possuem uma narrativa dramática que são apresentadas em apenas três momentos. A apresentação do problema, o desenvolvimento, onde surgem os conflitos e seus desdobramentos e o desfecho do problema que foi exposto inicialmente. Essas são as únicas características em comum desses suportes que narram a história com uma linguagem completamente diferente da outra. No teatro o espectador escolhe o que quer ver no palco, ele acompanha o ator o tempo inteiro já no cinema quem direciona o nosso olhar é o diretor na utilização dos planos. Nos palcos também não é possível a utilização do real que é substituído pelo artificial e por isso a interpretação dos atores é fundamental e tem que ser verdadeira para ser aceita, é preciso buscar outras formas de se buscar o real, através de outra linguagem e aparatos como sonoplastia, figurino. Já nas telas o real é possível, a interpretação abre espaço para outros elementos que vão construir a cena como fala Alcione Araújo em seu texto, Leituras e Linguagens: "Entre o teatro e o cinema, abstraindo-se o fato de que pessoas podem ser sensíveis a um e impermeáveis a outro, são muito diferentes os recursos e percursos para se provocar uma mesma e determinada emoção usando-se o palco e a tela."

Existem várias formas de transcrever um material de um suporte para outro, você pode “adaptar” que é a forma que não altera a história, o tempo, o local, os personagens, mas nem por isso transforma-se em uma ilustração audiovisual do texto porque nem tudo em um livro pode ser adaptado. Pode ser apenas “baseada em” que mantém a história na integra, mas permite modificação dos nomes dos personagens e de algumas situações. A obra pode ser “Inspirada em” que desenvolve uma nova estrutura para a história tomando referência um personagem e uma situação dramática, pode ser uma “recriação” que requer um grau de fidelidade mínimo ou uma “adaptação livre” que apenas a história, tempo e personagens são mantidos, mas a estrutura é montada sobre um dos aspectos dramáticos da obra, ou seja, trabalha-se sob um ponto de vista.

Para adaptar uma obra do texto para o audiovisual é preciso cumprir três etapas. A primeira é a idéia que já temos pois partimos de um texto. A segunda é estabelecer qual o conflito principal na storyline e a terceira é a sinopse, depois é preciso definir a estrutura.

Na adaptação do livro “Drácula”, de Bram Stocker para o cinema com o filme de Francis Ford Coppola e com a peça de Márcio Meireles observamos que houve uma adaptação bem fiel ao texto mas cada uma trouxe características que se encaixam com o suporte que estão trabalhando.

São os detalhes que geram as diferenças nas adaptações, pois podemos manter a mesma estrutura, ou seja, ordenação de ações de um texto original em um adaptado, mas construiremos a narrativa dando vida e corpo aos personagens criando através do cenário, figurino, e iluminação um mundo possível e diferente.

No filme, é o personagem Drácula que conduz a narrativa, ele que passa as emoções, a sensualidade predominante da história, tem também um trabalho primoroso de efeitos para dramatizar a cena, os efeitos sonoros e visuais são importantíssimos na construção da narrativa. Na peça Márcio Meireles optou-se por não ter o personagem Drácula em cena, mas ele aparece nos vídeos, recurso que ele usou para junto com os atores contar a história, o “Drácula” da peça está vampirizado em cada um de nós, é a sociedade e todos os males que nos rodeia. Vídeo, recursos sonoros e atuação marcam a peça Drácula e o diretor utilizou esses vários recursos que conversavam entre si, uma excelente idéia na adaptação para o teatro. Já o texto foi bem fiel ao livro, o que torna a peça extensa e cansativa, poderia ter uma exugada nas falas e também a atuação dos atores deixa a desejar, eles pareciam fazer uma leitura dramática do texto, sem uma atuação mais envolvente. No teatro as expressões corporais são importantíssimas, os atores precisam passar o drama, a emoção, a raiva através do olhar, dos gestos e a platéia precisa perceber isso como podemos ver no texto, Leituras e Linguagens, de Alcione Araújo: “O que é mais importante, pondo em xeque a interiorização da interpretação, vale dizer, a consistência da construção da personagem, que precisa estar viva e inteira, com as mínimas nuances de emoção.”

Adaptar um produto a outras linguagens é um desafio para todas as pessoas que estão envolvidas no processo, principalmente para o roteirista e diretor que precisam ter em mente exatamente o que se quer passar com a adaptação e a peça e o filme “Drácula” conseguiram, de formas diferentes passar a sua mensagem. A adaptação do filme é maravilhosa e chama para a leitura do livro. 

*Texto de Michelle Guimarães Oliveira aluna do 4º semestre do curso de Produção Audiovisual da Unijorge.

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