A VALA COMUM - Páginas do Processo - nº 04

"um tiro certeiro
no meio do peito
um corpo estendido
um grito contido
um soco, um sopro, um choro
e nada mais"

"Foi como um tiro certeiro que iniciamos a 3ª etapa do processo A Vala Comum. Interrompemos o método de criação coletiva extrema e intensa, onde cada ator trouxe para o ensaio suas histórias e casos pessoais para levantarmos células-criativas que poderiam entrar na montagem, mesclando com as cenas originais do texto.


Nessa nova etapa, que chamei de MÃOS, nos direcionamos à metáfora "mãos á obra". Nosso objetivo foi criar as cenas do Mena Abrantes escritas e organizadas no texto-base usado como ponto de partida para a montagem do espetáculo.


Para isso, ensaios extras começaram a ser marcados. A esta altura, cada um já tinha uma função a desempenhar na peça, já se encaminhava ao encontro com um personagem. MÃE - Ana Paula Carneiro. FILHO MORTO - Roquildes Junior. AMIGO - Israel Barretto. HOMENS - Luiz Buranga e Vinicio de Oliveira Oliveira. CAVÍOLAS - Jeferson Dantas, Manuela Santiago, Márcia Gil-Braz, Saulus Castro e Sunny Mello (que chegou por último no processo, encontrando um coletivo coeso, uma intimidade já estabelecida e uma atmosfera densa instalada, e no entanto se adaptou rapidamente, integrando e compondo esse grupo de pessoas, passando a dividir histórias e sensações presentificadas na "memória da pele".


Chamo de "memória da pele" o registro de sensações e reações experimentadas nos laboratórios cênicos, onde o ator é conduzido a rememorar fatos de seu passado (as vezes esquecidos), revelando informações armazenadas na memória de seu corpo (compreendido como uma estrutura não-dicotomizada). Tomando como mola propulsora a vivência dos atores de situações semelhantes às experimentadas na sala de ensaio, ou imagens absorvidas do imaginário popular/televisivo/, ou ainda dos casos transformados em pop pela mídia. Assim, uma vez ativada a chamada memória emotiva (aqui apelidada por memória da pele), o processo criativo é intensificado, gerando ações e reações físicas, deslocamentos físicos-sensoriais no tempo e no espaço, deixando o ator num estado dilatado que favorece o jogo da criação de cenas.


Partimos do texto para chegar à cena de fato. Primeiro um momento para leitura e compreensão do texto, e em seguida improvisações da cena, que pouco a pouco ganhavam "marcadas", indicando caminhos e circuitos corporais de interpretação (ação/reação).


Nesse momento, trouxe para os ensaios as contribuições adquiridas ao longo de meu processo de formação na UFBA, com os professores Jacyan Castilho, Meran Vargens e Harildo Deda. O tratamento do texto, o jogo das palavras na construção dos diálogos, o destaque para frases-de-valor, a valorização e transposição das imagens textuais para ação corpóreo-vocal, a tecitura da cena de modo ascendente e justificado (uma ação levando a outra, com objetivos claros, empurrando a história para frente)..."


por Luiz Antônio Jr.

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