Documentário sobre Mario Gusmão é exibido no Cine Vila


Mario Gusmão ao lado do Bando de Teatro Olodum na peça "Zumbi está Vivo e Continua Lutando" (1995)

Nesta segunda, 23 de novembro, às 19h, acontece mais uma edição do Cine Vila Bando, dentro da programação do VI Festival A Cena Tá Preta. Desta vez, o filme exibido será o documentário realizado por Elson Rosário sobre a vida e a obra do emblemático ator Mario Gusmão. Primeiro negro formado na Faculdade de Teatro da UFBA, foi atuante nos movimentos negros baianos e, em 68 anos de vida (1928-1996), participou de dezenas de peças de teatro, novelas e seriados da televisão brasileira, além de dezesseis filmes, entre eles "O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro" e "Idade da Terra", de Glauber Rocha. Ator, dançarino e coreógrafo, Mario Gusmão é um nome importante na história do Teatro Vila Velha: ele atuou em "Eles Não Usam Bleque-Tai", espetáculo de inauguração do Vila, dirigido por João Augusto em 1964, além de “O Noviço” e “Stopem-Stopem”, e mais tarde ao lado do Bando de Teatro Olodum, em 1995, na peça "Zumbi está Vivo e Continua Lutando" (foto), dirigida por Marcio Meirelles.

Abaixo, leia artigo sobre o documentário "Mario Gusmão: O Anjo Negro da Bahia", que será exibido no Cine Vila:

O documentário MÁRIO GUSMÃO: O ANJO NEGRO DA BAHIA, realizado por Elson Rosário (2005), caracteriza-se como uma ferramenta de valoração da memória cultural baiana por apresentar, através de diferentes linhas identitárias, as transformações e o impacto que o personagem título causou no meio político-cultural de toda a Bahia.

O documentário apresenta a vida e obra de Mário Gusmão através de uma série de entrevistas com pessoas e personalidades que conviveram com ele e, mais que isso, compartilharam momentos de glória e tragédia ao longo de sua trajetória. A elucidação do tema direciona o olhar do público para três enfoques temáticos da personalidade – e por que não dizer identidade – do ator: a veia artística, a militância no movimento negro e a espiritualidade através do candomblé.

A narrativa segue uma ordem cronológica, iniciada por seu nascimento, na cidade de Cachoeira, passando por sua iniciação como ator, em Salvador, e o respectivo sucesso que alcança não só no teatro, mas também no cinema e televisão. Através de fotos, cartazes e cenas de filmes, o vídeo nos apresenta a fase gloriosa do ator. Entretanto, sua ascensão é interrompida quando é preso por porte de drogas, durante o regime militar. A partir de então, os depoentes nos contam o declínio da carreira de Mário, a dificuldade de voltar aos palcos, e como isso o levou para o sul da Bahia, onde revolucionou movimentos culturais e sociais da região. O filme, contudo, não se encerra na morte de Gusmão, ele apresenta o seu legado como ator, como negro que assumiu sua etnia e lutou em movimentos de conscientização, e também como um homem de religiosidade aflorada, que tem no candomblé uma forte ligação com suas raízes e, principalmente, um caminho na empreitada de entender a si próprio.

"Nós vivemos em um país onde a maioria não tem direito a história, não tem direito a memória, portanto não tem noção de pertencimento. E não ter a noção de pertencimento é o caminho mais fácil para o outro te dominar.", afirma a socióloga Vilma Reis nos primeiros minutos do filme. Assim sendo, partimos do princípio de que a desconstrução desta obra audiovisual levará à reflexão e compreensão dos mecanismos sociais que atuam em todos os cantos da Bahia, afim de que seja possível interferir nos mesmos e, desta forma, fortalecer os elementos que compõem nossa identidade cultural.

Trecho do artigo “História, Memória e Representação: uma análise do documentário Mário Gusmão, o Anjo Negro da Bahia” de Luana Lago Almeida,* Malú Silva Carvalho e Sheylla Tomás Silva (Comunicação Social –UESC-2010)
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