o que cabe neste palco - estréia
Tem pimenta nessa CARNE


CARNE - sextas e sábados, 19h
Foto: Camilo Fróes


O drama extremado, o conflito de valores e a exposição de "perversões" são alguns dos trunfos colecionados pelo dramaturgo Nelson Rodrigues em sua obra. Apaixonada pelo tom arrebatado dos textos do autor, a diretora Rita Leone bebeu nesta fonte e concebeu um espetáculo que explode em sensualidade para explorar a fundo as tentações e desejos humanos. Carne é um híbrido entre teatro e dança, com elenco formado por atores e dançarinos saídos da Escola de Dança da UFBA e da Cia. Valter Leone. Juntos, eles formam o Armazém de Idéias, uma companhia inspirada pela idéia de fazer uma ?revisão estética? da obra de um dos maiores dramaturgos brasileiros do século XX. Nesta entrevista, a diretora expõe seu processo criativo e as motivações para construir o espetáculo que estréia no Projeto O que Cabe Neste Palco.

"O marido não deve ser o último a saber. O marido não deve saber nunca"
N.R. em Bonitinha, mas ordinária


Por que Nelson Rodrigues?

Em primeiríssimo lugar, por sempre ter sido apaixonada pelas obras dele, e ter "entrado" nesse mundo com o espetáculo "O Beijo no Asfalto", que batizou minha relação com o teatro. Por ser um dramaturgo decisivo na história do teatro nacional, com obras cheias de humanidade, sentimentos comuns e ao mesmo tempo assustadores. E por ser visceral, extremista e exagerado como são as grandes paixões da vida.

O espetáculo trabalha várias obras do autor ao mesmo tempo. Quais são elas e por que a escolha?

Na verdade, são fragmentos de cenas adaptadas ao teatro-dança que criamos. "A serpente", "Álbum de família", "A mulher sem pecado" e "Dama do lotação" aparecem como pinceladas conectadas por sentimentos comuns entre todas e ligadas pela sexualidade de maneira muito presente.

Nelson Rodrigues já foi montado inúmeras vezes, em vários lugares, tem adaptações para o cinema... Qual é o diferencial de Carne neste cenário?

Carne, acredito que se diferencia justamente por não contar esta ou aquela história e sim, tratar de sentimentos rodriguianos, do que pode se encontrar em todas as obras de Nelson, como ódio, traição, sexo, hipocrisia...tudo ali, na cara, exposto, misturado.

"Quando gosto de uma mulher, preciso insultá-la"
N. R. em Mulher sem Pecado

Como as obras rodriguianas aparecem nos elementos de dança do espetáculo?

Na visceralidade das movimentações, nos excessos, exagero, passionalidade, sensualidade, raiva, e tudo mais que o corpo, a CARNE pode fisicalizar.

Apenas dois atores fazem parte do espetáculo. Existe uma diferença entre a função deles e dos dançarinos? Qual seria?

Na verdade durante o processo nos tornamos 04 atores e 02 dançarinos. O espetáculo assumiu-se como TEATRO/DANÇA, no qual existe diferenciação de funções, as duas linguagens estão à serviço da mesma idéia ; vivenciar o universo rodriguiano através dos sentimentos comuns em suas obras.

Pelo o que foi dito, o discurso anti-moralista é o principal ponto da montagem. Vocês acreditam que nossa sociedade ainda é moralista? Como o espetáculo rompe com isso?

Claro! Vivemos escondendo coisas que todo mundo faz, mas ninguém pode saber. O espetáculo expõe, abre a gaveta, mostra o que estava escondido. Isso se deflagra nos diálogos, nas movimentações e até no nome: CARNE - aquilo que pulsa e sangra mas, fica debaixo da pele.

Como foi o processo de preparação do elenco para lidar com temas que ainda são considerados tabus?


O elenco vem de sucessivos "Nelsons", o que facilitou o processo de compreensão do autor. Porém, os laboratórios foram essenciais, alguns dolorosos , outros sensuais e invasivos até. As cenas pediam verdade, tivemos que buscar. E a presença de Paulo Cunha na co-direção foi fundamental, ele soube colocar ainda mais pimenta nesta CARNE!

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