Arte em Língua Portuguesa: Projeto de teatro lusófono apresenta espetáculo "A Besta" em Salvador

Foto Luma Flôres

Promovendo o intercâmbio entre Brasil, Portugal e Cabo Verde, projeto K Cena realiza espetáculo de diretor britânico radicado em Portugal com jovens atores baianos.

Entre os dias 25 de maio e 4 de junho, no Teatro Vila Velha, o público soteropolitano vai poder conhecer o resultado da quarta edição no Brasil do projeto K Cena, que promove o intercâmbio artístico entre Brasil, Portugal e Cabo Verde.  O espetáculo "A Besta" surge da residência artística de Graeme Pulleyn, diretor britânico radicado em Portugal, com integrantes da universidade LIVRE do teatro vila velha, programa de formação de atores do Vila, e permanece em cartaz de quinta a sábado, às 20h, e aos domingos, às 19h.

Criada a partir de três importantes autores da dramaturgia mundial, o espetáculo é uma espécie de coquetel de anarquia, ironia, surrealismo e provocação, segundo o diretor Graeme Pulleyn. "O Rinoceronte", obra mais conhecida do romeno Eugène Ionesco, ícone do Teatro do Absurdo, narra a história de uma vila que tem os seus habitantes transformados aos poucos em rinocerontes, com única exceção do protagonista, Bérenger, que consegue resistir à espécie de peste. "Ubu Rei", do autor francês "Alfred Jarry", busca inspiração em Macbeth, clássico de William Shakespeare, para narrar a grotesca história de Ubu, personagem que junto a sua esposa usurpa a coroa do país e conduz um governo bárbaro, violento e repressor. Já "O Teatro e a Peste", do dramaturgo francês Antonin Artaud, trecho da obra "O Teatro e seu Duplo", discute os efeitos da peste na sociedade e propõe um teatro que, assim como a peste, crie possibilidades de novas formas de estar na vida.

"Todos são textos escritos ou estreados em França entre finais do século XIX e meados do século XX. Cada texto, à sua maneira, marca um momento revolucionário na estética teatral mundial. Jarry rebenta com todas as convenções, Artaud lidera o movimento surrealista e Ionesco acaba por ser um dos principais porta-vozes do Teatro do Absurdo", explica o diretor, que tem trabalhado com o elenco desde o último mês de abril.

Teatro e Língua Portuguesa

A língua portuguesa é falada por 255 milhões de pessoas, espalhadas por nove países que a possuem como idioma oficial, além de diversas outras regiões do globo. Entre as iniciativas que promovem o intercâmbio entre países da lusofonia - como é chamado o universo composto de quem fala português - destaca-se o K Cena, iniciativa do Teatro Viriato (Viseu) que promove criações artísticas entre Portugal, Brasil e Cabo Verde, tendo como parceiros o Teatro Vila Velha, em Salvador, e o Instituto Camões/Centro Cultural Português – Pólo do Mindelo, de Mindelo, Cabo Verde.

O K Cena foi criado para investir na formação de jovens atores lusófonos e tem promovido a criação artística de diversos espetáculos, sempre a partir do trânsito de diretores lusófonos pelos três países. Apenas no Teatro Vila Velha foram criados "Quarto do Nunca" (dirigido pelo caboverdiano João Branco em 2013), "DQ2014" (dirigido por Graeme Pulleyn em 2014) e "DO-EU" (dirigido por João Branco em 2015). Nesse mesmo período, os diretores Marcio Meirelles e Chica Carelli, artistas do Teatro Vila Velha, também montaram espetáculos em Cabo Verde e Portugal.

Esta nova edição do K Cena teve início em agosto de 2016, quando Graeme Pulleyn trabalhou durante uma semana com os atores da universidade LIVRE. "Foi o pontapé de saída para esta nova montagem do projeto", conta Pulleyn, que lembra que, em 2017, já foram montadas as peças "Somos Todos Ubu", dirigida pela BRASILEIRA Chica Carelli em Cabo Verde, e "Ubulândia", dirigida pelos caboverdianos Paulo Miranda e João Branco, em Portugal.

A montagem dialoga com o turbulento tempo de hoje, tomado por novas crises políticas e sociais a cada novo dia, em todo o mundo, e faz o público lembrar o caráter cíclico da história. "Cabe a nós enfrentar as bestas deste mundo e viver as crises das pestes dos nossos tempos como aquilo que são: uma oportunidade para reinventar, rejeitando a podridão e acreditando que algo melhor pode nascer no seu lugar", propõe o diretor Graeme Pulleyn.

“Esses textos são muito próprios para este momento que estamos vivendo no mundo, mas especialmente no Brasil”, diz Marcio Meirelles, coordenador da universidade LIVRE. “Eu estava decidido a montar Ubu no segundo semestre, mas, como Chica e Graeme sugeriram que fosse o texto trabalhado neste ano pelo K Cena, abri mão, achei pertinente”, comenta.

A cenografia da montagem é concebida por Erick Saboya, que desde 2016, a partir da peça "Romeu & Julieta", dirigida por Marcio Meirelles, é um dos colaboradores da universidade LIVRE do teatro vila velha. "Um não lugar contraposto com um ex lugar é o mote espacial para o cenário de A Besta. O espaço cênico vai remeter a um banquete abandonado em um salão nobre que ruiu com o Velho Mundo. Raspas e restos sobre um monólito enferrujado serão palco da tentativa de manter os padrões que nos trouxeram até aqui, porém que a peste consumiu e são agora a única esperança de uma nova realidade", conta Saboya.
O Teatro Vila Velha é gerido pela Sol Movimento da Cena e, para sua manutenção, conta com o apoio financeiro do Governo do Estado da Bahia através do Fundo de Cultura.

Serviço:

"A Besta" | Projeto K Cena 2017
25 de maio a 4 de junho 
quinta a sábado (20h) e domingos (19h)
Teatro Vila Velha
Ingressos: 
R$ 20 e 10 (às quintas-feiras)
R$30 e 15 (sexta a domingo)
Vendas pelo site www.teatrovilavelha.com.br ou na bilheteria do teatro

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