Lázaro Ramos em "Conversa com Bial"


Na semana passado, o ator Lázaro Ramos participou de entrevista no programa "Conversa com Bial", exibido pela TV Globo, onde falou sobre sua carreira, projetos, vida pessoal e sobre o seu mais recente livro, "Na Minha Pele", lançado pela editora Objetiva, em que reflete sobre o racismo. Formado pelo Bando de Teatro Olodum, grupo onde iniciou a sua carreira artística e a sua militância negra através do teatro, Lázaro é uma das crias do Teatro Vila Velha.

O apresentador Pedro Bial iniciou o programa com o texto "Lázaro, um negro ator", escrito pelo encenador Márcio Meirelles, diretor artístico do Vila. Clique aqui para assistir à entrevista e leia o texto na íntegra abaixo:

Lázaro Ramos é um ator negro. Quando digo isto, levo em conta o fato de que nunca se diz de um branco que é ator: fulano é um ator branco. Levo em conta também o fato de que a adjetivação racial, para um ator negro, não é necessária. Poderia começar este texto em homenagem a Lazinho dizendo: Lázaro Ramos é um dos atores mais especiais que conheço. Mas ele o é por ser inteiramente o que é. E sei que não posso imaginar maior homenagem ou elogio a ele do que reafirmar o que ele afirma em cada gesto, olhar, som, pensamento, escolha, atitude de sua carreira.

Portanto: Lázaro Ramos é um ator negro!

Com isso digo que o ofício de ator, em sua plenitude, é exercido por ele.

O ator é aquele que dá seu testemunho de mundo no palco, na tela, em cada personagem que aceita fazer, em cada depoimento público na arena da mídia. Lázaro é um que não se furta a dar este testemunho, generosamente. E, neste mundo, neste Brasil que exerce tão cruelmente sua democracia racial, gerando mula[to]s e relegando o negro ao papel de figurante em sua história, um negro, quando se faz ator, só o fará bem se se fizer ator negro. É um estigma? Sim. É uma marca. O negro é estigmatizado aqui e não há como negar. Há então que assumir-se diferente e, com esta diferença, marcar a história deste país. Mudar em negras as brancas nuvens e fazer chover, fertilizar. Assumir-se co-autor da Cultura brasileira. Exercer seu papel de protagonista neste enredo. Pintar de preto a face deste país pardo, auriverde, cor de anil. Pintar também de preto o Brasil.

O ofício do ator é este: deixar sua marca no mundo, para que o mundo se torne diferente do que tem sido. É isso que Lázaro Ramos, o ator negro, tem feito. E, depois de Lázaro, sem dúvida, o Brasil está um pouco melhor.

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Rio, 25 de janeiro de 2003



*Texto publicado no catálogo do Festival de Cinema de Salvador . 2003 . com a seguinte biografia redigida pelo festival: o ator baiano Lázaro integra o Bando de Teatro Olodum, dirigido por Marcio Meirelles e formado por atores negros. Desde 1994 participou de mais de 14 espetáculos. A Máquina, de João Falcão, o levou a trocar Salvador pelo Rio de Janeiro. Participou também da peça Mamãe Não Pode Saber. No cinema, depois de algumas participações, atuou em As Três Marias, de Aluizio Abranches. Madame Satã é o seu primeiro filme como protagonista. Atua ainda em três longas que se encontram em pósprodução: O Homem do Ano, de José Henrique Fonseca, O Homem que Copiava, de Jorge Furtado e Carandiru, de Hector Babenco.




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