Antes de falarmos sobre as artes, é importante compreender
por que elas existem. Para isso, precisamos abordar a cultura e destacar duas
definições significativas: a de Milton Santos, geógrafo baiano, e a de Eric
Hobsbawm, historiador britânico.
Segundo Milton Santos, "o conceito de cultura está
intimamente ligado às expressões de autenticidade, integridade e liberdade. É
uma manifestação coletiva que reúne heranças do passado, modos de ser do
presente e aspirações, ou seja, o delineamento do futuro desejado". Por
sua vez, Hobsbawm enfatiza que a cultura desempenha um papel fundamental na
formação e coesão de identidades coletivas. Em sua visão, ela é central na
construção e expressão das experiências, valores e crenças de um grupo ou
sociedade.
Percebemos, assim, que ambas as definições atribuem à
cultura a responsabilidade pela construção coletiva que se relaciona e produz
realidades, sejam elas passadas, presentes ou futuras. Portanto, se vivemos e
nos relacionamos, estamos produzindo cultura.
As artes são uma forma de expressão dessa cultura. Por isso,
não é incomum que temas do nosso cotidiano se transformem em literatura,
teatro, dança, músicas, filmes e outras linguagens artísticas. Educar por meio
da arte é permitir que essas expressões culturais apareçam de forma
diferenciada em relação ao cotidiano.
No entanto, a arte não apenas representa, mas também propõe
novos valores, crenças, reflexões e comportamentos que não são comumente vistos
em nosso dia a dia. Não é coincidência que, durante muito tempo, pessoas
consideradas diferentes fossem atrações circenses. Embora possamos não
concordar com o que foi feito, isso era considerado arte, algo além do comum.
Felizmente, nossos valores mudaram e não precisamos mais subjugar alguém e
chamar isso de arte. Quando chamamos alguém de artista, geralmente queremos
dizer que essa pessoa é vista como diferenciada, alguém que busca chamar a
atenção, entre outros aspectos.
Nesse contexto, a educação por meio da arte tem o papel de
subverter, questionar e trazer o aluno para o centro do aprendizado, tornando-o
um artista, um agente propositivo, questionador e alguém disposto a criar e
propor coisas novas a partir do existente, compartilhando com o mundo. Augusto
Boal, teatrólogo brasileiro, afirmava que todo ser humano é um artista por sua
condição intrínseca, embora alguns optem por exercer essa capacidade e outros
não. Por essa razão, ele propôs que todos possam e devam desenvolver sua arte.
Paulo Freire defendia que uma educação libertadora deveria envolver a conscientização
crítica dos estudantes, incluindo a arte como ferramenta para reflexão,
transformação social e construção de conhecimento coletivo.
Portanto, entendo que não existe uma educação para o
"novo mundo" que não priorize a criatividade em vez do mero conhecimento.
Não podemos competir com a Inteligência Artificial nesse sentido. A arte surge
da criatividade, do olhar, da necessidade de expressão e realização. A educação
e a arte são o caminho para o futuro.
Referencias:
Artigo: Da cultura à indústria cultural – Milton Santos
Livros: Arco Iris do Desejo – Augusto Boal; A invenção das
tradições e Tempos Fraturados: cultura e sociedade no século XX - Eric Hobsbawn
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