UNIVERSIDADE LIVRE DE TEATRO VILA VELHA - Seremos sempre animais - Por: Gabriel Gomes


Seremos sempre animais

O mundo em que vivemos é cada vez mais artificial no tempo, no espaço, na ação… e na emoção. Cabe a nós, artistas, explorar aquilo que cada vez mais se deixa de lado ou até mesmo se ignora nestes dias tão tecnológicos. Toda esta artificialidade tenta constantemente deixar bem delineada a diferença entre nós e os animais. No entanto, nunca nos podemos esquecer que também nós o somos e que em situações limite os nossos instintos primitivos falarão mais alto. O raciocínio por vezes complica-nos e inibe-nos.

A arte deve ser simples e livre, no sentido de que “é o que é” e “o que é” é para
todos.

É precisamente nesta linha de pensamento que para mim se torna bastante interessante e fundamental a pesquisa, a prática do Ariel Ribeiro - a Zootomia. Partindo de um estudo, de uma observação do mundo animal o Ariel desenvolve ferramentas que, aliadas ao movimento de um corpo, permitem uma libertação física de qualquer intérprete. Isto permite ao intérprete a facilidade de se mover num determinado espaço sem que tenha que puxar pela parte racional da ação. Claro que devemos estar sempre conscientes daquilo que estamos a fazer, mas o que permite que essa movimentação seja o mais livre possível é o facto do Ariel nos apresentar ferramentas maleáveis, que casam com o corpo no qual irão habitar. Com isto, não teremos que pensar na interpretação que queremos dar ao movimento, pois a liberdade do mesmo acabará por expor as emoções que sentirmos no momento. É natural, é animal. É esse o ponto que pretendemos atingir, parece-me.

Com esta qualidade de movimento, repleto de ferramentas bastante úteis, conseguimos
perceber que o espaço que ocupamos e o corpo que utilizamos estão repletos de
energias. Energias essas que são naturalmente exploradas ao longo do movimento,
permitindo-nos ter sempre uma variedade de emoções, de ritmos, de intensidades. Isto é
a vida. Uma instabilidade variável entre estes três últimos elementos que referi. É também esta uma ferramenta que o Ariel utiliza para tornar o movimento mais artístico. Ter a consciência de um gráfico imaginário associado ao movimento, que deve ter as suas linhas completamente imprevisíveis e instáveis, tal como na vida. Desta forma permite ao intérprete que o movimento seja constantemente mutável, surpreendendo tanto o espectador como o próprio corpo que se movimenta. Nesta linha de trabalho e de pensamento conseguimos perceber o quão damos de nós na vida e em cena, o quão a sociedade nos modifica e nos molda, o quão reprimimos as nossas energias e capacidades emotivas fase ao nosso lado racional. Todos nós temos mais do que aquilo que mostramos, todos nós temos instintos e sensações primitivas que pretendemos libertar, pois nunca nos podemos esquecer que somos e seremos sempre animais.

Gabriel Gomes
Sobre Ariel Ribeiro 
Ariel é ator e dançarino brasileiro. Ex-participante da Universidade Livre Vila Velha, participante do Teatro dos Novos e colaborador da Universidade Livre, Ariel esta na Europa com o seu trabalho sobre Zootomia.

Sobre o autor
Gabriel Gomes é ator e dramaturgo português. Começou a carreira participando do Projeto K. Cena em Viseu.Um dos autores de "Temporal", montagem feita pelo K. Cena na Bahia. Com participação dos ex-participantes da livre e agora integrantes da Companhia de Teatro dos Novos Meniky Marla e Vick Nerfertiti e a Direção de Chica e Carelli.

         



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