MAJOR OLIVEIRA VOLTA EM CARTAZ NAS SEGUNDAS DE OUTUBRO

Depois de uma primeira temporada nas quartas e quintas de agosto no Teatro Vila Velha, Major Oliveira retorna a casa nas segundas de outubro e como parte do projeto "Ditadura Não Mais".  Além do monólogo farão parte do projeto a estreia da peça "A Lira dos Vinte Anos" de Paulo César Coutinho com direção de Paulo Henrique Alcântara, duas edições do Palco Aberto, além da exposição audiovisual "Conhecer para não esquecer", produzida pela TVE Bahia.

Major Oliveira - Foto: Andrea Magnoni

Um Major abandonado no asilo pelos filhos logo após a instalação da Comissão da Verdade no Brasil tenta encontrar, de alguma forma, o controle sobre algo em sua vida. Esse é o mote de Major Oliveira, monólogo escrito por Daniel Arcades, interpretado por Antonio Fábio e dirigido por ambos. Nesta curta temporada, serão três apresentações (03,10 e 17 de outubro), mais cedo, às 19h.

Ao perceber que a situação de seu corpo, de sua família e da política do país não mais é controlada por ele, o Major se coloca em teste resolvendo perturbar a paz daqueles que o visitam na manhã de domingo onde o espetáculo se passa. A visita de um enfermeiro e umaTestemunha de Jeová naquele dia levam o Major a tentar bruscamente relembrar seus tempos de torturador durante o Regime Militar. O confinamento no asilo conduz o protagonista da peça a refletir sobre as convicções morais, filosóficas e religiosas tidas durante a vida. Para o dramaturgo e diretor Daniel Arcades, “Major Oliveira é um espetáculo para estampar a face do opressor e contar uma história de derrota, como pouco vemos nesses casos. Estamos acostumados a ver indivíduos como o Major apenas em situação de poder. Partimos da falência destas pessoas, queremos saber o que eles sentem quando não conseguem mais oprimir. É uma história sobre envelhecer, sobre como nossas convicções são postas à prova no momento da velhice”.

Antônio Fábio, ator que dá vida ao personagem e diretor também da obra, que além do espetáculo teatral aparecerá na televisão no seriado “Nada será como antes” da rede Globo, ao falar sobre o desafio de encarar personagem tão forte em um monólogo afirma que “todas as características de um sujeito com uma formação ditatorial está lá: ele é misógino, racista, homofóbico e tudo que se possa pensar sobre preconceito. Mas é preciso conhecer essa face, inclusive, para poder se brigar com ela. Dar vida ao Major é prestar atenção nos nossos pais, avós, nos coronéis, nas famílias tradicionais. É saber que além de uma corpo se findando, existem ideias que permanecem”. A montagem partiu de um convite do ator ao dramaturgo para falar sobre a velhice e a tentativa do mundo de romantizar essa etapa da vida numa peça de teatro. A partir daí, foram quase dois anos de criações de histórias, motes e debates para se chegar ao Major Oliveira. Depois de conceberem o que seria a peça, perceberam que ambos estavam tão imbuídos do projeto que seria difícil chamar alguém para dirigir trabalho tão pessoal.

A equipe cresce com a contribuição da Direção Musical de Ronei Jorge que assina a trilha sonora tensa e soturna. Edeise Gomes assina a direção de movimento e Nando Zâmbia a iluminação do espetáculo. A peça, definida por eles como “espetáculo em um ato com descontrole dos fatos”, recorta cenas desta madrugada e deste amanhecer de domingo, trazendo fragmentos não-lineares destes momentos que a plateia poderá vivenciar junto ao Major. A equipe promete ocasiões de tensão e de muita reflexão diante das nossas crenças éticas, morais e religiosas.

A montagem foi executada com recursos independentes e segue com investimento dos artistas envolvidos acreditando na arte como espaço de fomento à sensibilidade diante de momentos onde prevalece o discurso de ódio nas grandes mídias. Mas contou com forte apoio da Academia Villa Salute, o Armazém cenográfico e o Acervo Boca de Cena. Além disso, o Teatro Vila Velha também entra como parceiro na temporada.

Olhar a complexidade que cerca um sujeito como este é o que o espetáculo pretende alcançar, os discursos totalitários junto à sua fragilidade enquanto ser humano são um prato cheio para pensarmos como pode-se chegar e modificar indivíduos que passam a vida acreditando em verdades como as que o Major tanto acredita.

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