No meio da tempestade - Cícero Neves




A um ano trás eu estava em Porto Alegre e nem pensava em me mudar de cidade, quanto mais de estado. A vida seguia seu curso e eu desenvolvia meus projetos. Então em Julho deste ano tudo mudou. Em um mês estavamos (minha companheira e eu) nos re-organizando para mudarmos para Salvador.

Era uma mudança radical em nossas vidas. Estavamos embarcando em um viagem em que não tinhamos ideia de onde iria nos levar. A senseção era a de encarar uma tempestade de frente, mas com a esperança que o barco aguente até chegarmos ao nosso destino.

A tempesdade ainda não passou, mas agora ela não parece tão forte como nós imaginavamos. Nova cidade, outra cultura, novas descobertas. Mas toda a mudança para novas terras é um recomeço. Muitas vezes precisamos nos desapegar de velhos habitos e deixar que o novo nos surpreenda.

Foi numa busca por novas possibilidades nesta terra ainda por descobrir que cheguei ao Teatro Vila Velha e a Universidade Livre e a partir de uma oficina que participei fiquei sabendo que haveria a seleção para o elenco de a Tempestade de Shakespeare. Não pensei duas vezes, me inscrevi para participei da seleção. Seria uma grande oportunidade de conhecer pessoas e uma possibilidade de estar em um espetáculo.

Há um ditado que diz: A primeira impressão é a que fica. E o que dizer de várias primeiras impressões? Era minha primeira experiência cênica em Salvador. Era a primeira vez que eu participava de uma seleção para um espetáculo de Shakespeare. Era a primeira vez que eu era
selecionado para um espetáculo com um elenco tão grande. Era a primeira vez que eu iria trabalhar com pessoas que eu não conhecia. Era a primeira vez que eu pisaria num palco em Salvador. Outra tempestade se aproximava?

Desde o primeiro dia da oficina de seleção até agora, aquela tempestade inicial esta cada dia mais calma e o temor de uma nova tempestade passou. Nesta outra tempestade eu tenho a companhia de um elenco incrível. São pessoas criativas, dedicadas ao fazer teatral, engajadas e muito generosas com um alguém que acabou de chegar de terras distantes.

Estou no meio da tempestade. São cinco dias por semana, quatro horas por dia. Eu encaro esta tempestade sem medo e com muito prazer e carinho. Para não me estender muito e entediar o leitor encerro meu relato com uma citação da Tempesdade dita por Prospero e que acredito ser uma boa difinição desta arte efemera que é o teatro: “ Somos feitos da mesma substância dos sonhos e, entre um sono e outro, decorre a nossa curta existência.” Sonhemos com belo espetáculo, uma ótima temporada e um país melhor.



Evoé



Cícero Neves
Participante do Coro de A Tempestade

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