Espetáculo do Núcleo Viladança traduz as diversas muvucas no Teatro Vila Velha*

Qual a experiência – de quem não tem nenhuma experiência – em um espetáculo de dança?

(foto: João Millet Meirelles)
Essa foi a minha primeira pergunta ao entregar o ingresso na entrada do palco principal do Vila. Como é possível notar, não sou uma pessoa que frequenta muitos espetáculos de dança. Não é por não gostar, já vi todos os tipos de espetáculos, em especial no Vila; é falta de hábito mesmo. Talvez achasse que a Dança fosse algo para um público bastante específico. Só que, nesse caso, me interessei pelo nome – é, sou dessas que compra o livro pela capa – e decidi experimentar. Acho que, muito provavelmelmente já estava sentindo que precisava ir por novos caminhos (veja, esse ano foi minha primeira vez no Bonfim). Foram muitos os pensamentos que vieram à minha cabeça enquanto esperava a Muvuca começar.

Como leiga, o que me atrai em um espetáculo de dança é a hipnose que os movimentos dos corpos dos bailarinos pode provocar na plateia. Muvuca é uma conjunção desses movimentos, ora suaves, ora abruptos. O jogo com as luzes e com as “paredes móveis”, a sucessão de imagens e o casamento dessas duas características com a música me fizeram muito bem. A princípio, fiz como todo bom (e leigo) amante de teatro e cinema: tentei encontrar a história, a tal Muvuca. Depois, passei a não tentar interpretar tudo e a curtir a hipnose. Foi aí que as coisas começaram a ter alguma lógica, os movimentos foram sendo reconhecidos como uma mistura de leituras estilizadas dos movimentos do cotidiano – festa, briga, sexo, religião, de tudo um pouco.

A trilha sonora (de JoãoMillet Meirelles e Roberto Barreto) é um sucesso à parte. É possível entender cada pedaço que compõe a música separadamente. O carnaval, o candomblé, a música eletrônica, a baianidade e a modernidade, uma coisa bem Baiana System. Se você não ficar hipnotizado, certamente estará embriagado pela música.

A temporada de Muvuca se encerra hoje, culminando com o fim do Amostrão Vila Verão, às 19h. E eu sugiro que você passe lá, que prestigie. Depois de sair do espetáculo eu tive a sensação de que é preciso entender um espetáculo de dança como o que se sente, a experiência ali, e não como numa peça de teatro linear, onde esperamos sempre alguma frase, algo que impacte. A gente sai de um bom espetáculo de dança como o Muvuca como se tivesse acabado de acordar: bem, leve, relaxado. E olha que o trabalho de corpo dos bailarinos é surreal, uma das coisas que pensei foi “céus, eles devem estar esgotados!”. É uma entrega da alma mesmo.

Muvuca tem a direção e coreografia de Cristina Castro, que também assina a dramaturgia, com Sérgio Rivero e as projeções de vídeo de Amaranta César e Danilo Scaldaferri. Quando o espetáculo acabou, um dos atores agradeceu por estarmos lá, “mesmo com tanta atração num sábado à noite, no verão de Salvador”. Pois acho que isso reflete uma novidade: a vontade que o soteropolitano (e quem veio de fora também) está de experimentar, de se envolver com tudo. Aproveita que Muvuca é o penúltimo espetáculo no Vila antes do carnaval.

*Texto publicado no Colorlilas

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