O DISCURSO FINAL
Bom dia a todas as pessoas presentes.
Mais que o tempo, o espaço separa este janeiro do janeiro de 2007.
A distância física não é muita: poucas centenas de metros separam o Palácio Rio Branco, onde estamos, da Rocinha ou Vila Esperança ou Vila Nova Esperança, onde assumi o cargo, em 2007, mas um universo nos separa de lá. O que gostaria agora era de estar inaugurando sua reurbanização, a partir do brilhante projeto de Marcelo Ferraz, e vendo a reocupação do espaço, por seus moradores. Não foi possível.
Na Rocinha, em 2007, não me transmitiram o cargo, como fazemos agora. Não existia uma Secretaria da Cultura nem um secretário para tal ato. Isto foi inaugurado pelo governo Wagner, alí. Quando apresentei equipe e projeto.
Naquele janeiro de 2007 chovia e tinha muita lama na vila Nova Esperança, mas sete secretários e a primeira dama estavam naquela comunidade onde o Estado nunca esteve, a não ser através da polícia. No dia seguinte um jornal estampava, na primeira página, uma foto onde eu, no ar, pulava uma poça de lama. Foi o que fiz muitas vezes durante a gestão. Tive que pular muitas poças de lama.
A reportagem dizia que meu discurso foi mais o de um diretor de teatro do que o de um secretário. Como se houvesse uma dicotomia e fosse possível eu ser um sem ser o outro. Durante estes quatro anos, o que fiz foi trabalhar muito para transformar um discurso em ação e para que esta transformasse a realidade do público. Isso é o que faz um artista e foi o que fizemos a equipe da secretaria e eu.
Naquele janeiro, coloquei o capital simbólico de meus 35 anos de vida pública como trabalhador da cultura a um projeto político, no qual acredito e continuo engajado, onde quer que eu esteja, trabalhando para que continue a dar certo. Acredito porque este sempre foi também o meu projeto político, como artista: descentralizar, democratizar o acesso, construir redes, sistemas, ouvir, trabalhar coletivamente.
A praxe seria agora prestar contas de tudo que fizemos. Mas seria tedioso, porque muito foi feito. Muito mais do que permitia nossa estrutura frágil e nosso pequeno orçamento – apesar de ser o segundo maior orçamento para a Cultura de todos os estados do Brasil. E se fizemos tanto é porque contávamos com uma equipe que era um time dos sonhos: o time que qualquer secretário de cultura do mundo sonharia em ter. Estiveram comigo Pola, Angela, Ivana, Paiva, Gica, Bira, Fred, Hirton, Vanda, Bete, Romulo, Paulo Henrique, Monique, Moacir, e foram chegando outros ou já estavam e foram se incorporando, entendendo, acreditando, comprando a briga, arquitetando e construíndo uma revolução. Neuza, Bia, Daniel, Patrícia, Solange, Everaldo, Troi, Marcos, Dulce, Sérgio, Samyra, Bruna, Vanderlei, Ciro, Lúcia, Daniele, Olímpio, Dora, Sofia, Vera, Olga, Vanderson, Taiane, Ingrid, Cyntia, Iuri, Shirley, Gil, Ivonete e muitos outros e os mobilizadores e os representantes territoriais e os mais de três mil funcionários que não pouparam esforços pelo nosso projeto. Pena que alguns poucos não tenham se incorporado a ele porque não entenderam, não acreditaram, não quiseram comprar a briga ou mesmo porque não quiseram que desse certo. Mas deu.
Lamento que neste time eu não tenha podido contar com a colaboração de Cristina Castro. Perdeu a Bahia a competência de seu talento como artista, produtora e gestora. Eu tive que me contentar com a melhor parte: seu amor, paciência, tolerância e força.
Portanto, ao invés de um relatório, prefiro dizer apenas que trabalhamos orientados pelo conselho de Makota Valdina ao governador, no dia da posse do seu primeiro mandato: “veja as árvores, elas dão frutos porque têm raízes. Fortaleça as raízes que os frutos virão.” Foi o que foi feito. Os frutos estão aí. Agora, é colher, distribuir e espalhar as sementes. Alimentar novas raízes e tornar a ver os frutos brotarem.
Para isso deslocamos o olhar para os 26 territórios de identidade, para os 417 municípios, para os 14 milhões de cidadãos baianos, todos eles produtores culturais, todos com direito constitucional de acesso à cultura, como à educação e à saúde. Não é possível se pensar em políticas públicas para a Cultura cujo centro sejam os artistas e não os cidadãos. É como se Educação tivesse como meta atender aos professores e a Saúde aos médicos. Todos eles – professores, médicos, artistas – são agentes das políticas do Estado para promover o desenvolvimento e bem estar da população. E não pode ser de outra forma.
Albino, a Secretaria da Cultura, tem três grandes desafios, neste segundo mandato do governador Jaques Wagner: aproximar-se mais da Educação, para que a musculatura desenvolvida pela produção cultural baiana tenha eco e retorno; preparar o estado para que o legado da copa, no campo da engenharia do espetáculo, seja estruturante para nossa economia; e consolidar muito do que foi feito, começando pela aprovação da Lei Orgânica da Cultura, que está na Casa Civil, e a seguir, cuidando da reestruturação da secretaria para que ela esteja apta a atender de fato à Cultura baiana em todas as suas dimensões. Isso, como a reurbaização da Rocinha, não foi possível fazer.
Cabe a você agora levar adiante essa jovem secretaria, de apenas quatro anos, Albino. É pública a minha adimiração pelo seu pensamento, sua competência e seu trabalho. Como é público o meu respeito e carinho à sua pessoa. Conte comigo como amigo e peão, no que for preciso.
É com orgulho que agradeço o apoio e a confiança do Governador Jaques Wagner. Entendo que ele reconhecia em nosso trabalho as diretrizes de seu governo e as orientações que nos deu, na primeira reunião do secretariado: que trabalhássemos na instalação deste Estado, republicano e democrático, que promove o bem estar de todos a partir de um desenvolvimento pautado em valores maiores que o monetário. E esta é a Bahia que temos agora.
Devo dizer que o mesmo apoio e confiança que tivemos do governador, recebemos de todo o Governo. Agradeço portanto a todos os secretários e suas equipes e, mais particularmente, aos da Fazenda, do Planejamento, da Administração e a seus técnicos, pela sensibilidade com que a área sempre trataram as questões da Cultura. Assim como agradeço também ao Legislativo.
Importante também dizer que o alinhamento com o Ministério da Cultura e o apoio dos ministros Gil e depois Juca, como de todos daquele ministério, que foi um divisor de águas na política brasileira, foram fundamentais para a construção de nossas políticas e do pacto federativo na área da Cultura.
Também é importante agradecer a todos os prefeitos da Bahia, especialmente àqueles que estiveram mais próximos e entenderam nosso projeto. E aos dirigentes municipais da cultura, por todo o trabalho que fizemos juntos mas, principalmente, pela criação da Associação dos Dirigentes Municipais da Cultura que, tenho certeza, vai mudar o cenário das políticas municipais da Bahia.
Por fim, agradeço também aos mais de 100 mil baianos que participaram das conferências de Cultura e a todos os artistas e cidadãos produtores culturais, pelos conselhos, críticas e elogios à nossa gestão, porque ajudaram a nortear e fortalecer nosso caminho.
É engraçado: agora volto para o meu lugar de artista, de onde nunca saí, e saio do lugar de político, coisa que um artista não deixa nunca de ser.
Marcio Meirelles
Salvador, 23 de janeiro de 2010
Mais que o tempo, o espaço separa este janeiro do janeiro de 2007.
A distância física não é muita: poucas centenas de metros separam o Palácio Rio Branco, onde estamos, da Rocinha ou Vila Esperança ou Vila Nova Esperança, onde assumi o cargo, em 2007, mas um universo nos separa de lá. O que gostaria agora era de estar inaugurando sua reurbanização, a partir do brilhante projeto de Marcelo Ferraz, e vendo a reocupação do espaço, por seus moradores. Não foi possível.
Na Rocinha, em 2007, não me transmitiram o cargo, como fazemos agora. Não existia uma Secretaria da Cultura nem um secretário para tal ato. Isto foi inaugurado pelo governo Wagner, alí. Quando apresentei equipe e projeto.
Naquele janeiro de 2007 chovia e tinha muita lama na vila Nova Esperança, mas sete secretários e a primeira dama estavam naquela comunidade onde o Estado nunca esteve, a não ser através da polícia. No dia seguinte um jornal estampava, na primeira página, uma foto onde eu, no ar, pulava uma poça de lama. Foi o que fiz muitas vezes durante a gestão. Tive que pular muitas poças de lama.
A reportagem dizia que meu discurso foi mais o de um diretor de teatro do que o de um secretário. Como se houvesse uma dicotomia e fosse possível eu ser um sem ser o outro. Durante estes quatro anos, o que fiz foi trabalhar muito para transformar um discurso em ação e para que esta transformasse a realidade do público. Isso é o que faz um artista e foi o que fizemos a equipe da secretaria e eu.
Naquele janeiro, coloquei o capital simbólico de meus 35 anos de vida pública como trabalhador da cultura a um projeto político, no qual acredito e continuo engajado, onde quer que eu esteja, trabalhando para que continue a dar certo. Acredito porque este sempre foi também o meu projeto político, como artista: descentralizar, democratizar o acesso, construir redes, sistemas, ouvir, trabalhar coletivamente.
A praxe seria agora prestar contas de tudo que fizemos. Mas seria tedioso, porque muito foi feito. Muito mais do que permitia nossa estrutura frágil e nosso pequeno orçamento – apesar de ser o segundo maior orçamento para a Cultura de todos os estados do Brasil. E se fizemos tanto é porque contávamos com uma equipe que era um time dos sonhos: o time que qualquer secretário de cultura do mundo sonharia em ter. Estiveram comigo Pola, Angela, Ivana, Paiva, Gica, Bira, Fred, Hirton, Vanda, Bete, Romulo, Paulo Henrique, Monique, Moacir, e foram chegando outros ou já estavam e foram se incorporando, entendendo, acreditando, comprando a briga, arquitetando e construíndo uma revolução. Neuza, Bia, Daniel, Patrícia, Solange, Everaldo, Troi, Marcos, Dulce, Sérgio, Samyra, Bruna, Vanderlei, Ciro, Lúcia, Daniele, Olímpio, Dora, Sofia, Vera, Olga, Vanderson, Taiane, Ingrid, Cyntia, Iuri, Shirley, Gil, Ivonete e muitos outros e os mobilizadores e os representantes territoriais e os mais de três mil funcionários que não pouparam esforços pelo nosso projeto. Pena que alguns poucos não tenham se incorporado a ele porque não entenderam, não acreditaram, não quiseram comprar a briga ou mesmo porque não quiseram que desse certo. Mas deu.
Lamento que neste time eu não tenha podido contar com a colaboração de Cristina Castro. Perdeu a Bahia a competência de seu talento como artista, produtora e gestora. Eu tive que me contentar com a melhor parte: seu amor, paciência, tolerância e força.
Portanto, ao invés de um relatório, prefiro dizer apenas que trabalhamos orientados pelo conselho de Makota Valdina ao governador, no dia da posse do seu primeiro mandato: “veja as árvores, elas dão frutos porque têm raízes. Fortaleça as raízes que os frutos virão.” Foi o que foi feito. Os frutos estão aí. Agora, é colher, distribuir e espalhar as sementes. Alimentar novas raízes e tornar a ver os frutos brotarem.
Para isso deslocamos o olhar para os 26 territórios de identidade, para os 417 municípios, para os 14 milhões de cidadãos baianos, todos eles produtores culturais, todos com direito constitucional de acesso à cultura, como à educação e à saúde. Não é possível se pensar em políticas públicas para a Cultura cujo centro sejam os artistas e não os cidadãos. É como se Educação tivesse como meta atender aos professores e a Saúde aos médicos. Todos eles – professores, médicos, artistas – são agentes das políticas do Estado para promover o desenvolvimento e bem estar da população. E não pode ser de outra forma.
Albino, a Secretaria da Cultura, tem três grandes desafios, neste segundo mandato do governador Jaques Wagner: aproximar-se mais da Educação, para que a musculatura desenvolvida pela produção cultural baiana tenha eco e retorno; preparar o estado para que o legado da copa, no campo da engenharia do espetáculo, seja estruturante para nossa economia; e consolidar muito do que foi feito, começando pela aprovação da Lei Orgânica da Cultura, que está na Casa Civil, e a seguir, cuidando da reestruturação da secretaria para que ela esteja apta a atender de fato à Cultura baiana em todas as suas dimensões. Isso, como a reurbaização da Rocinha, não foi possível fazer.
Cabe a você agora levar adiante essa jovem secretaria, de apenas quatro anos, Albino. É pública a minha adimiração pelo seu pensamento, sua competência e seu trabalho. Como é público o meu respeito e carinho à sua pessoa. Conte comigo como amigo e peão, no que for preciso.
É com orgulho que agradeço o apoio e a confiança do Governador Jaques Wagner. Entendo que ele reconhecia em nosso trabalho as diretrizes de seu governo e as orientações que nos deu, na primeira reunião do secretariado: que trabalhássemos na instalação deste Estado, republicano e democrático, que promove o bem estar de todos a partir de um desenvolvimento pautado em valores maiores que o monetário. E esta é a Bahia que temos agora.
Devo dizer que o mesmo apoio e confiança que tivemos do governador, recebemos de todo o Governo. Agradeço portanto a todos os secretários e suas equipes e, mais particularmente, aos da Fazenda, do Planejamento, da Administração e a seus técnicos, pela sensibilidade com que a área sempre trataram as questões da Cultura. Assim como agradeço também ao Legislativo.
Importante também dizer que o alinhamento com o Ministério da Cultura e o apoio dos ministros Gil e depois Juca, como de todos daquele ministério, que foi um divisor de águas na política brasileira, foram fundamentais para a construção de nossas políticas e do pacto federativo na área da Cultura.
Também é importante agradecer a todos os prefeitos da Bahia, especialmente àqueles que estiveram mais próximos e entenderam nosso projeto. E aos dirigentes municipais da cultura, por todo o trabalho que fizemos juntos mas, principalmente, pela criação da Associação dos Dirigentes Municipais da Cultura que, tenho certeza, vai mudar o cenário das políticas municipais da Bahia.
Por fim, agradeço também aos mais de 100 mil baianos que participaram das conferências de Cultura e a todos os artistas e cidadãos produtores culturais, pelos conselhos, críticas e elogios à nossa gestão, porque ajudaram a nortear e fortalecer nosso caminho.
É engraçado: agora volto para o meu lugar de artista, de onde nunca saí, e saio do lugar de político, coisa que um artista não deixa nunca de ser.
Marcio Meirelles
Salvador, 23 de janeiro de 2010
Bonito texto, Marcio. Quanto à sua gestão não posso falar nada pq não tenho conhecimento de causa, a não ser uma polemica ou outra. Só porisso seu mérito é grande: não ter medo de polemicas, nem de sair da zona de conforto.
ResponderExcluirNadia
Esse é meu irmão, em quem acredito e estou colada SEMPRE!
ResponderExcluirTE AMO
Nenga
Bravo Monsieur le Secretaire...para mim você será sempre o Jack Lang da Cultura na Bahia...apesar das divergências tenho que reconhecer que teu trabalho vai deixar marcas...espero que saibam colher os frutos e não esqueçam de continuar a semeadura...como tua amiga estou feliz em saber que poderei te ver mais amiúde...bjs
ResponderExcluirDesde aquele janeiro de 2007 ou um pouco antes, já acreditava na sua ousadia de burilar a sua marca na cultura baiana. Certamente a polêmica existiria; como sempre existiu em todos os seus trabalhos anteriores. E,é claro, assumindo a Secult, as probabilidades de acirrar velhos pensamentos estavam escritas. Que bom ter acontecido algumas divergências. Assim, você mostrou competência, determinação e coragem para expor a sua sinceridade, a sua autenticidade, contrariando os conhecidos e escusos vícios políticos. Enfim, foi de uma importância maior a descentralização da cultura. Criar essa secretaria foi um grande passo e você como secretário foi exemplo muito positivo para continuar mudando o cenário das políticas municipais da cultura,inclusive do interior baiano. Para aqueles que não quiseram acreditar na sua gestão eu recomendo um pouco de otimismo e me lembro de um pequeno verso que eu nem sei de quem é: Se não houver frutos Valeu a beleza das flores Se não houver flores Valeu a sombra das folhas Se não houver sombra Valeu a intenção da semente..... Bem, foi plantado e os seus méritos são inquestionáveis.
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