Marcio Meirelles, o Secretário de Cultura
texto de Waldir Santos*
Conheci Marcio há uns seis anos, em uma de suas oficinas no Teatro Vila Velha, como aluno. Prestando atenção em suas posições diante dos problemas, vendo com ele reagia às “pequenas crises mínimas”, captando ali um cara honesto e com um grande amor pela arte, eu, que integro a administração pública desde os 18 anos, pensei: bom cidadão pra ser Secretário ou Ministro da Cultura! Eu, que sempre fui contra, nos grêmios e diretórios, colocar o pebolista na diretoria de esportes e o poeta na de cultura, já que preferia explorar a inteligência dos solucionadores de problemas em favor dos que tinham as habilidades específicas, via-me, finalmente, diante de um artista com raro talento pra administrar, e com a indispensável aparência de honesto.
Uns tempos depois encontrei Marcio no Passeio Público, logo depois de sua indicação, e disse: você foi a melhor escolha entre as que o Governador fez. Confirmei isso observando uma gestão cultural séria e proba, o tipo de reação que ela encontrou, e os tipos que reagiam, e vibrei. Enfim, uma coisa nesse mundo árido da política toma o rumo que deveria tomar, mas já sabia que não duraria o suficiente. Parabenizo Wagner por ter tido coragem de manter Marcio no primeiro governo, permitindo que ele fizesse tanto pela democratização da cultura na Bahia, outrora, predominantemente, mera fonte de renda para apaniguados, num sistema político-administrativo que, lá fora, envergonhava baiano decente.
Vejo a arte como um produto imprescindível para a existência sadia da alma, e, como consumidor fiel, brigo por sua qualidade. De vez em quando me arrisco escrevendo, encenando, cantando, mas quase sempre no quarto do computador e com a câmera desligada. Poucas vezes incomodo os amigos com essas aventuras. Sinto-me, como comprador de produtos de cultura, no direito opinar. E o faço, inicialmente, comparando a gestão de Marcio com as outras que conheci, que ficaram muito aquém. Mas a melhor maneira de qualificar uma administração é pela sua contextualização.
Meus ídolos da música e do teatro, que têm seu talento como ferramenta da profissão, os que fizeram passeata contra Marcio, os que o apoiaram e os que, piormente, silenciaram, precisam analisar a gestão da cultura num cenário onde ela é apenas mais um instrumento eleitoral, ou apenas um estorvo. Somos administrados por quem luta para se manter no poder ou fazer sucessor, e a cultura é um apêndice que às vezes inflama. A população não tem noção da importância do tema, exatamente por lhe ter sido propositalmente negado o acesso. E a pior parte da sociedade, aquela que elegemos para nos representar, quando tem noção, tem prioridades.
Nesse cenário, ser gestor público, em qualquer área, para as pessoas de bem, é um ônus grave. É preciso coragem para aceitar o cargo, bravura para tentar mudar as coisas, e loucura para insistir. Quando o protagonista é um aventureiro da política, que dela que tirar o seu sustento ou algo mais, vai agir da forma mais conveniente.
Desejo sucesso ao novo Secretário, sobre quem ouvi ótimas referências.
Raros são os loucos com a coragem de Marcio. Bravos!
*Waldir Santos é Advogado da União e radialista. Twitter: @bahiaconcurso / E-mail:waldir@concurseiros.com.br
"É preciso coragem para aceitar o cargo, bravura para tentar mudar as coisas, e loucura para insistir. Quando o protagonista é um aventureiro da política, que dela que tirar o seu sustento ou algo mais, vai agir da forma mais conveniente."
ResponderExcluirGostei muito desse pedaço. É bem por aí.