No mapa mundi


“No mapa mundi da minha cabeça eu avisto uma àfrica e no meu coração, outras àfricas”

Minha boca seja meu coração!

Minhas avós eram mães de Santo. Minha avó Anita era de Omolú e minha avó Eugênia de Oxum. A casa de minha avó Anita cheirava a comida de azeite e chegar ali no terreiro e olhar pro teto, aquelas bandeirolas de tirinha... Infinitas tirinhas dos meus sonhos. Às vezes brancas, às vezes coloridas, de amarelo pro azul passando no degradê pelo verde. Perdi a conta de quantas vezes eu comi caruru na bacia com mais seis meninos.

Vó Anita era de Cachoeira, terra do candomblé, vó Eugênia viveu em Itapagipe a vida toda, passando pelo Santo Antônio além do Carmo, era mais de “mesa branca”.

Sentei para ver ÁFRICAS, a ansiedade do dia da estréia não me deixou saboreá-la. Queria que terminasse logo para abraçar o Bando. Vieram a 2ª, 3ª, 4ª; 5ª vez... (Aprendi décor).

Algumas coisas foram como flechas de Cupido ou de Oxossi, ferindo direto meu coração.

Sempre acreditei como artista e educador que todo equívoco entorno da África e do negro, oriundos de toda Europa e até do Canadá, têm uma solução: investir em contar a verdade à criança e ajudá-la a desenvolver a auto-estima. Dizer à criança negra de “nariz que o boi amassou”, de cabelo pixaim e rasta: você é linda! Seu cabelo é lindo. Para ajudá-la a crescer assim, consciente de sua beleza.

Tudo em Áfricas é encantador, da feira aos contos, da música á dança, do cenário aos atores e atrizes.As estampas dos tecidos.As meninas dançando, cantando e gritando me remeteram às bacantes. O tambor-falante me remeteu ao “Meu pé de laranja-lima”.

E no final quando Cássia conta a última lenda, confesso que me transportei dalí e voltei em um instante para não perder nenhum segundo. Ela disse: E quem é Iansã? Iansã é a arte!!! A minha lágrima, contida há anos, saiu da sola dos meus pés, passou pelo meu sexo e desabou nos meus olhos. Antes, ao passar pela minha boca, as lágrimas exclamaram: Meu Deus!!!. Com esse “Meu Deus!!!”, minhas lágrimas quiseram dizer: Que bom que estou vivo para ver Áfricas. Que bom que a vida se revela a mim tão bonita agora. Foi como se o gosto do “calulú” da minha avó voltasse ao meu paladar. Rodopiei parado com todos os orixás da África.

Pense aí num homem feliz? Pensou? ...Eu sou muito mais feliz que ele!

Quero mandar um abraço pra Fábio, Auristela e Washington... E Parabéns a todos e em particular a Brás pela indicação no Braskem. Ihh, e Ciranda entrou na roda.

Lázaro Gomes Carvalho Santos

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Áfricas volta a cartaz nos próximos dois finais de semana, aos sábados e domingos, 16h, com ingressos a R$ 16 (inteira) e R$ 8 (meia). Não perca a chance de ver o primeiro infantil da história do grupo, que recebeu três indicações no Prêmio Braskem de Teatro 2007: melhor Espetáculo Infanto Juvenil, Ator Coadjuvante (Érico Brás) e na Categoria Especial, os Adereços de Zuarte Jr.

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