"Meu rei, nunca mais"

Carta Capital - 16/01/2009 /16h45


Ana Paula Sousa


Na abertura do 15º Salão de Arte do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA), em dezembro, moradores da comunidade do Unhão, recanto carente da Baía de Todos-os-Santos, circulavam com copos e sorrisos pelo casarão do século XVII que durante anos esteve para eles fechado. “Antes, só de olhar, já vinha polícia dizer pra gente circular”, conta Francinaldo Ribeiro. A abertura do MAM para os vizinhos antes barrados, por mais que soe a detalhe, tem um importante valor simbólico. Parece que a Bahia, após anos de carlismo, começa a ver, também na cultura, as oligarquias se encolherem.


O Salão de Arte do MAM-BA, um dos mais prestigiados do País, sempre foi, localmente, um evento para chiques e famosos. Conta-se, inclusive, que a socialite carioca Narcisa Tamborindeguy, num dos coquetéis de abertura, foi passear numa passarela de madeira, desequilibrou-se e, simplesmente, caiu no mar. Folclores à parte, é fato que o museu, idealizado pela arquiteta Lina Bo Bardi, na década de 1960, foi, ano após ano, afastando-se de seu sentido original.


Basta dizer que boa parte dos visitantes do Solar do Unhão, restaurado para abrigar o MAM, ia até lá para conhecer o restaurante. Muitas vezes, os turistas saíam sem nem sequer saber da existência do museu. Ao assumir a direção do espaço, em 2007, Solange Farkas decidiu não renovar a licença do restaurante, que, entre outras coisas, enchia de gordura o lugar onde ficava guardado o acervo. “Mas essa era só a cereja do bolo num cenário caótico. Quando entrei na reserva técnica, tive vontade de desistir”, diz Solange, produtora cultural nascida na Bahia, mas radicada em São Paulo, criadora do VideoBrasil.


O retorno de Solange Farkas à Bahia é semelhante ao de outros baianos ligados à cultura que, durante a dinastia ACM, simplesmente desistiram da terra natal. Ao assumir a Secretaria de Cultura do governo Jaques Wagner, o diretor teatral Márcio Meirelles decidiu levar de volta, para postos importantes, duas dessas figuras: Solange e o pianista Ricardo Castro, à frente da orquestra do Estado e de um projeto de integração social por meio da música, o Neojibá.


Solange conhecia o secretário dos tempos de juventude. Quando menina, chegou a fazer teatro com ele. “Minha vida estava toda em São Paulo, mas acho que qualquer baiano, quando o ACM perdeu, ficou olhando pra cá com vontade de fazer alguma coisa. Quando Márcio me chamou, como eu poderia dizer não? Era também o resgate da força que a Bahia teve um dia na cultura.”


*Confira a íntegra dessa reportagem na edição impressa

Comentários

  1. Só a imprensa nacional (parte dela), à sua natural distância, que consegue enxergar os caminhos e as transformações que vêm ocorrendo em nossa terrinha?
    Será que o excesso de proximidade causa uma certa DISTORÇÃO nos olhos da nossa pequena imprensa local?
    Ou ela simplesmente não enxerga o que está ocorrendo ou só enxerga o que os olhos viciados conseguem (ou são solicitados) a ver!

    Não entendo... Ou melhor... infelzimente... eu ENTENDO!
    GL

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