Cascadura no Encontro de Compositores
segunda-feira, 07 fevereiro 2011 - postado por fabiocascadura: http://bandacascadura.com/a-ponte/
Pela internet, venho acompanhando o desenrolar de um projeto muito interessante que tem acontecido em Salvador: o Encontro de Compositores. É exatamente isso: um encontro que junta alguns caras que se dedicam a escrever canções. Me parece que o evento vinha acontecendo uma vez a cada mês. Soube da existência dele pela participação assídua do meu amigo Ronei Jorge.
Ele chegou a comentar comigo e até casualmente me falou para aparecer em uma das edições passadas, mas com Agenda assumida pelo CASCADURA, meu tempo ficou bem curtinho e eu fui adiando a ida…
Eis que nesse fevereiro de 2011, recebo a ligação do produtor do projeto, André Lira, que me convidou para fazer parte da brincadeira. Eu topei e não me arrependi.
O lance é o seguinte: o Encontro de Compositores parece ter nascido da cabeça de alguns dos caras que fazem parte do “elenco fixo”, vamos chamar assim, do projeto – Jarbas Bittencourt (ex-Confraria das Bazófia), Arnaldo de Almeida, Dão, Pietro Leal (Piriguino Babilaque), Manuela Rodrigues, Sandra Simões, Thiago Kalu, Carlinhos Cor das Águas e Deco Simões, além do próprio Ronei, e acontece no charmoso Cabaré dos Novos, um espaço bem descontraído que fica dentro do Teatro Vila Velha (Campo Grande). Nesse espaço os compositores se dividem em duplas espalhadas por mesas próximas às paredes, enquanto o público senta em outras mesas no “miolo” do lugar. Já de cara, amei essa disposição…
Nisso, um dos compositores abre a “rodada”, do jeito que quiser: pode catar uma canção sem dar boa noite, pode dar boa noite e apresentar os demais, pode contar uma história, uma piada… Enfim: é livre. Quando esse termina, um outro assume a pauta e assim por diante. Até que todos tenham falado, tocado, se manifestado. E então tudo começa de novo… O evento é moldado para durar cerca de duas horas, o que permite que essa dinâmica seja exercida por duas vezes. Essas duas horas, acredite, passam voando.
Dessa forma, o Encontro de Compositores é uma grande conversa musicada! Um encontro de compositores baianos.
Fui lá, na quinta, dia 03 de fevereiro, sob o convite do Jarbas e do André Lira (produtor). Fui muito bem recebido por eles e acomodado na sala do Cabaré dos Novos (confesso que gosto muito de lá, apesar de nunca haver me apresentado ali). Ainda passava o som do meu violão, quando alguém comentou que Manuela Rodrigues e Sandra Simões não participariam daquela edição: estavam desfalcados das presenças femininas.
Nem bem deu 20h, hora marcada para o inicio dos trabalhos e a sala foi tomada por uma platéia variada e bonita. Havia muitos jovens, cara de verão, saca? Moçada de férias, bronzeada… Mas, tinha gente de meia idade, de mais idade… Tinham namorados, solteiros e paqueradores… Enfim, tinha de tudo, do bom e do melhor…
Ainda meios em saber como me colocaria no lance, pedi uma cerveja e deixei o barco correr, “lá na frente veremos como faremos…”.
Lembro que tenho mais de 18 anos de palco, de som ao vivo. Ainda que haja muita ansiedade em qualquer apresentação (o famoso “friozinho na barriga”) tenho segurança e maturidade artística suficiente para lidar com as mais diversas possibilidades dentro de uma apresentação. Inclusive a possibilidade de quebrar a cara totalmente e ter que me re-avaliar… Deixa quieto…
Começo com Thiago Kalu que cantou uma composição sua, cujo refrão foi entoado por boa parte da platéia, aplaudido e deu a vez para Arnaldo de Almeida. Ele cumprimentou a todos, simpático e seguiu cantando. Há um lance bacana que é a liberdade de interferência na apresentação dos demais. Enquanto um toca o outro pode seguir num solo, num batuque, num solfejo harmonizado… Pode interferir mesmo. A liberdade é total.
Nesse instante, enquanto Arnaldo mostrava seu som, notei o cuidado com a luz do lugar. Claro! É um teatro! A iluminação é muito simples e bem bonita. Assim como o som que é muito bem posicionado:nem muito alto e plenamente audível! Confortável.
Conforto é o que se sente na sala quando a, luz baixa e se deixa perceber o que está acontecendo.
O terceiro foi justamente Ronei. Ele puxou o assunto pela minha presença. Falando que era bacana eu chegar ali porque ele tinha a percepção de que as pessoas costumam ver artista de rock como um “bicho de muitas cabeças”. Nas palavras dele “…Parece que estamos sempre juntos. Onde um vai o outro vai também, se um vai ao banheiro o outro segue junto…”. Para escrever canções, Ronei é um talento. Se expressa muito bem. Tem uma assinatura sua. Você escuta uma canção, lê uma letra de música e diz: “Isso é de Ronei!”. O cara é fera. Porém, a por detrás do seu jeito meu tímido, está um dos maiores contares de “causos” que já conheci. Ronei sempre prende a atenção de todos, arrancando-lhes generosas risadas durante e ao final de sua narrativa, em geral pontilhadas de imitação de pessoas conhecidas de quem o escuta… Eu o admiro por isso também.
Depois dessas boas vindas, ele cantou uma composição sua, bem bacana, num contraponto de ternura muito legal e que fez o clima do lugar ficar bem tranqüilo. Ele terminou e me passou a bola.
A minha participação começou comigo muito sem jeito, acho que ainda encabulado. Não contarei como foi, porque uma amiga recente, a Andreza, estava lá acompanhada do seu noivo. Ele é fotografo e ela costuma filmar umas coisas do CASCADURA, inclusive muitos dos videos do Projeto Sanguinho novo, disponíveis no Youtube. Ela tratou de registrar, tanto as minhas falas e execuções, como as de Ronei também. Você pode vê-las nesse link aqui.
Adianto que, como disse na hora lá, fiz o óbvio: contei a história que me inspirou a escrever “Não posso julgar ninguém”, primeira música que escolhi para tocar no encontro.
Enfim, os outros compositores se sucediam, cantando, recitando poesias, por entre histórias e divagações osbre a arte de compor e demais aspectos da vida que por acaso lhe ocorressem a hora. O público dançava, ria, curtia. Se deliciava com tudo.
Teve um momento muito engraçado: o cantor e compositor Pietro Leal, da banda Pirigulino Babilaque, comentou que ali estavam reunidos compositores das mais diversas vertentes: rock, samba, samba rock, MPB, reggae… Que aquela sim era a grande mistura. E brincou com a locução da vinheta do Festival de Verão Salavdor, imitanda voz que diz “Movido pela mistura!”, slogan do festival. Arrematou isso dizendo; “Poxa! Dão um texto pro cara falar e a criança fala sem saber que essa é a grande mistura”. Uns segundo depois uma voz surge da platéia e grita: “Pietro… Pietro… Quem faz a locução sou eu!”. A sala veio abaixo em risadas.
Era um rapaz nos seus vinte e poucos anos, com pinta de aspirante à ator. Pietro pediu que ele se apresentasse. Ele se levantou, sem jeito e dise que o texto não era dele (lógico!). Para não perder o rebolado, nosso colega pediu: “Então faz a voz aí”. E ele mandou a voz da vinheta, com mesma inflexão já conhecida de quem escuta esse comercial mais de 10 vezes por dia.m Outra onda de risos largos irrompeu…
Pietro se saiu bem por que levou uma música sua, com muito sentimento.
Outro convidado da noite foi o percussionista e compositor Peu Meurray. Agitador cultural, ele mobiliza a região conhecida como Sete Portas (onde fica o famoso mercado de mesmo nome), com o seu Galpão Cheio de Assunto. E lá foi ele, fazendo a platéia acompanhá-lo no coro e com o apoio de todos nós, colegas presentes.
Todos se fartaram em falar e tocar, até que a roda foi finalizada pelo mais anfitrião de todos: Jarbas Bittencourt e começou novamente seguindo a mesma ordem.
A minha segunda apresentação, bem como a de Ronei, que me antecedeu novamente, está para ser vista aqui.
Eu escolh dessa vez a canção “Rosemary”, que nem é tão conhecida, não está em nenhum disco do CASCADURA, mas que tem em sua inspiração outra história que acho curiosa. Veja lá…
Como o tema da música é a descoberta do homosexualismo de uma cara, Carlinhos Cor das Águas decidiu cantar a sua “Bambi”: “Bambi, Bambi! Bambi, Bambi! Bambi, Bambi- bichááááá!!!”. O refrão é fácil e melódico, o que foi entoado, com sabor de galhofa, pela platéia… Só não entendi porque ele me dedicou essa… Bom, vai saber…
Pietro inclusive, recitou uma poesia muito massa, com aquele sotaque do cordel nordestino… A história era engraçada e ele a narrou com domínio das palavras e cheio de expressão.
Ao final, todos fizeram belas apresentações. Cantaram e contaram e deram seu recado para a alegria de todos ali. Ainda houve espaço para uma breve tietagem, encontro de outros amigos que estavam na platéia e a gaiatice de uma moço que, apontando para minha camiseta, onde se lia “Rubber Soul”, título do meu álbum favorito, dos Beatles, mandou “Esse disco é do Restart…”, com uma risadinha e cara de “viu como eu sou engraçado?”. Maneei com a cabeça e passei por ele. Lembrei da frase que est[á na biografia de Nelson Rodrigues, escrita por Ruy Castro, e que teimo não lembrar a exata autoria (seria Otto Lara Rezende?): “A juventude é uma coisa maravilhosa. Pena que está nas mãos dos jovens…”.
Sai de coração cheio e mente clara, com a disposição certeira para retornar na próxima edição. Valeu demais a pena ter participado. Quero bis!
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