Diário de Viagem de Vinicio em Londres: "SAGE GATESHEAD - Primeira experiencia paradoxal, maravilhosa".
O Sage Gateshead é um centro musical construído para interagir com os moradores. São oferecidos cursos e projetos diretamente com comunidades da cidade de Newcastle. O Sage é um mega centro acolhedor, agregador e difusor da música local e mundial, pop ou tradicional, para a região de Newcastle e é administrado a partir de um pensamento parecido com os Pontos de Cultura aqui do Brasil.
A nossa primeira atividade foi encontrar com James McVeigh, diretor do Arts Council England North East. Recebemos as boas vindas e através dele nos foi apresentado um panorama da produção cultural inglesa. Na conversa com James, ele falou sobre artistas financiamentos, forma de distribuição e incentivo, mas o que mais me marcou foi a prioridade de investimentos do governo em manter e incentivar produções de “excelência”. Esse pensamento demonstra como o governo inglês percebe a cultura e como o Brasil a partir das propostas do Ministério da Cultura, de algumas Secretarias dos estados, dos Pontos de Cultura, de organizações como a Redemoinho, está à frente da pratica do reconhecimento da cultura como de fato comportamento e expressão social.
Pelo que estamos percebendo os ingleses estão com uma problemática parecida com a nossa: a necessidade das atividades culturais estarem mais diretamente envolvidas com a população. A cultura aqui é vista como produção artística e não é desenvolvida como meio de expressão, dessa forma existem centenas de grupos e companhias de teatro, dança, música, museus que são mantidas pelo governo e que de fato não dialogam com a sociedade existem para serem “contemplados”.
Na segunda-feira, tivemos um jantar com Katherine Zerserson, diretora de ensino e Anthony Sargent, diretor geral do Sage Gateshead, onde conversamos sobre projeto, pensamentos e perspectivas. Antes do jantar, participei de uma aula com uma turma de imigrantes, ideia que promove a relação entre refugiados e imigrantes que moram em Newcastle através da música e teatro. Nessa atividade “extra”, percebi que, de fato, o Sage é um mega centro criador que promove o intercâmbio de ideias e a troca de pensamentos e conhecimentos. No jantar, Katherine emitiu a seguinte opinião: “Desde a década de 60 a Inglaterra vive numa cultura confusa girando em torno de se mesma”. Katherine disse também que quando esteve no Brasil viu produções maravilhosas nascidas das iniciativas, ideias e projetos com foco na necessidade de mudança social. Um exemplo dado por ela foi o Grupo Pim, que visitou durante sua estadia no Brasil. Respondi que percebia que a cultura na Inglaterra estava pautada sobre sua produção artística e não no desenvolvimento da expressão social e em alto e bom tom ela se defendeu: “eu não, eu sou Brasil! O Sage é diferente”. Concordei imediatamente. O Sage nasceu de uma necessidade local de desenvolvimento cujo o governo havia tentado construindo prédios e não teve êxito. Então ele surgiu com a proposta de interagir com a comunidade através de workshops e atividades.
Algumas instituições e grupos ingleses estão começando a fazer isso agora o que nós aqui no Brasil já fazemos há tempos, mas o nosso movimento é o contrário. Fazemos a partir de uma necessidade de mudança sociocultural e econômica para possibilitar, a partir de novas referências, as mudanças de perspectiva de vida para a maior parte da população brasileira. Os ingleses estão precisando dessa interação, desse diálogo, para que a arte possa desenvolver. Brinquei com Katherine: “Vocês tem que deixar os imigrantes entrarem” porque eles é que serão capazes de questionar a estrutura da sociedade inglesa e fazê-la sair da inércia.
Katherine, vamos colaborar desenvolvendo propostas de interação internacional!
Vini é chique demais, e enche todos de orgulho... parabéns diretor!
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