O VILA FALA


De como manter teatros funcionando


Viemos a público manifestar nosso sentimento com relação ao fechamento do Theatro XVIII. Nós lamentamos muito. É frustrante para nós, artistas, vermos um equipamento cultural que tem fomentado arte e cultura ao longo de dez anos ter que fechar as suas portas. Temos uma relação próxima com o XVIII, tendo em vista que ambas as casas são administradas por artistas e trabalham com grupos artísticos. O Teatro Vila Velha também está em situação delicada e também corre riscos de não conseguir se manter.

Gostaríamos, entretanto, de levantar algumas questões que nos parecem maiores do que aquilo que, a princípio, parece estar sendo discutido: o fechamento de uma casa de espetáculos com intensa atividade, há dez anos. A discussão pode e deve ser ampliada.


A relação entre isenção fiscal e cultura a que nós artistas tivemos que nos submeter nos parece ser uma delas. Outra é o entendimento do que é espaço público, espaço privado de interesse público, espaço privado de interesse privado e ainda, espaço público de interesse privado. Tudo uma grande confusão. Como se mantiveram, há anos, espaços tão próximos e tão distintos, como o XVIII e o Vila, por exemplo? As fontes de recursos pleiteadas são variadas: leis de incentivo fiscal – Fazcultura e Rouanet, fundos de cultura nas três esferas administrativas, recursos de bilheteria, do bolso... Como garantir a continuidade de um trabalho como estes dois exemplos, que são uma parte desse nosso universo cultural? Quem deve pagar por isso? O Estado, diretamente? O Estado mais a empresa privada, através da isenção fiscal? Como não depender do humor do “mercado”? Como não depender da vontade “política” de “A” ou de “B”? Até onde vão os braços do Governo (leia-se Secretaria de Cultura) na solução de problemas desta ordem? A Bahia insiste em não discutir profundamente problemas há muitos anos incrustados nessa carapaça que criamos (artistas) em defesa, normalmente, daquilo que está mais próximo a nós mesmos.

Em conformidade com o pensamento de outros espaços culturais, onde a relação entre estes espaços invariavelmente se dá com grupos artísticos, gostaríamos de discutir com os nossos pares, as formas de não deixar que o problema se agrave ainda mais. Precisamos, todos, que a situação caótica em que nos encontramos, há muito tempo, seja resolvida o mais rápido possível e para tanto propomos discutir, urgentemente, temas como, por exemplo:

- A criação de condições sociais, políticas e econômicas para construção de um estado que alimente a utopia de uma sociedade na qual a arte e a cultura sejam compreendidas como afirmação da vida e direito universal.

- O direito de produzir arte, entendida não como veículo de marketing institucional nem como um instrumento de pseudo-inclusão social, mas como elaboração, na esfera do simbólico, do nosso depoimento crítico sobre a experiência de viver numa sociedade em que a cultura é mercadoria a serviço da dominação e por isso tem a função de alimentar os valores da concorrência, da acumulação ou concentração de renda, do preconceito e da exclusão.

- O reconhecimento, por parte do Estado, da sociedade e da iniciativa privada da necessidade da cultura entendida como exercício crítico da cidadania e, consequentemente, do nosso direito de criar um teatro que corresponda a esta definição.

Para tanto seria ainda imprescindível:

- a ocupação e revitalização de espaços públicos ociosos;

- a revisão do conceito de gestão de espaços públicos e privados de interesse público existentes;

- a criação de políticas públicas para os teatros e ou sedes de grupos já existentes que cumprem a função cultural que nós especificamos;

- a criação de linhas de crédito e isenção de impostos para a aquisição, construção, reforma, manutenção e equipagem de espaços teatrais.

- a construção de novos espaços teatrais em terrenos públicos ou em terrenos privados em parceria com o poder público;

Quem são os interessados nisso tudo? O governo (estado e prefeitura)? Os teatros (públicos e privados)? Os grupos artísticos de teatro e dança? As empresas patrocinadoras de cultura? Quem?

O Vila Velha oferece o espaço físico, enquanto nossas portas estão abertas, e o apoio na organização de um seminário que possa ampliar, portanto, essa discussão.

Aguardamos contato dos interessados,

COLEGIADO DO TEATRO VILA VELHA
Chica Carelli, Cristina Castro, Débora Landim, Fábio Espírito Santo, Gordo Neto, Gustavo Libório, Jarbas Bittencourt, Jeudy Aragão, Márcia Menezes, Marísia Motta, Vinício de Oliveira Oliveira

Comentários

  1. Salve,
    sou Rachel Brumana, produtora cultural atualmente "pos-graduando-me" em gestao cultural aqui na USP. Recebi de Christine este e-mail e sou uma das interessadas em aprofundar esta ideia de um encontro/seminario para falar de todas essas questoes que voces levantaram. Pesquiso centros culturais perifericos e a discussao sobre os equipamentos publicos é um dos aspectos da minha pesquisa.
    Aguardo novo contato.
    Um forte abraço,

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  2. Quando a gente pensa que já viu tudo...

    Não bastasse o fim dos memoráveis Cine Rio Vermelho, Cine Bahia e tantas outras salas de cinema populares, vemos a iminência do fim de mais um, dos raríssimos teatros populares desse estado.
    O Teatro XVIII não é só um espaço para uma infinidade de manifestações artísticas, é um verdadeiro centro de formação de cidadãos sensíveis, politizados e atuantes no que se refere a cultura, que vem prestando um excelente serviço a nossa sociedade que carece de mais espaços de reflexão tão profíquos como o nosso queridíssimo "Dezoitão".

    Dizia Nietzsche que a arte existe para que a verdade não nos destrua.
    Mas, e quando destroem a arte?

    Triste Bahia! Como é difícil ser baiano, meu Deus!

    Sinceramente,

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  3. Tenho interesse na discussão de um item:
    a ocupação e revitalização de espaços públicos ociosos

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  4. A todos vocês

    Fiquei encantada com o texto que vocês fizeram em repúdio ao fechamento do Theatro XVIII.

    É de estarrecer até o mais inculto cidadão o desrespeito que vem ocorrendo em nossa cidade em relação à cultura. Infelizmente a nojeira nacional está contaminando todas as esferas de governo.

    O XVIII tinha o Sarau Instrumental, momento finíssimo onde todos podiam apreciar uma música clássica sem frescuras, quando apenas 05 instrumentos tornavam as melodias tão claras quanto uma orquestra inteira poderiam mostrar... A fala de Mabel Veloso narrando a história dessas pessoas especiais... (a alma agradecia a cada noite!!)

    Façam o possível e o impossível para transporem as barreiras existentes e quem sabe assim consigamos ter o XVIII de volta ainda esse ano? (antes do recesso de fim de ano).

    Parabéns a todos!!!

    Um abraço

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  5. Meu Deus .... Num sabia que o Teatro XVIII fechou , que pena . Lamento esta
    escrevendo tudo isso . Onde vamos parar ? Onde encontraremos cultura ? Se é
    em video as locadoras estão todas vazias , pois o mercado de DVD's está
    sendo todo pirateado daqui um tempo num vai existir filmes tambem. Se é em
    teatro as produções são caras e num dar pra se viver assim .

    Fica ai o meu manifesto e aguardo uma solução do governo (leia-se ministerio
    e secretaria da cultura ) .
    Enquanto isso fico fazendo a minha parte de frequentar quase todos os finais
    de semana e durante a semana tambem TEATRO . Que é uma arte que amo.

    Abçs

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  6. Olá Colegiado do Vila Velha,

    Fiquei muito lisonjeado e comovido com esse e-mail. Sou Lázaro Gomes, sou professor de História da Arte, sou ator e atuo em direção. Acumulei durante anos grande experiência na área das artes cênicas. Minha maior ocupação atualmente é na área da arte-educação e esse assunto me interessa de maneira especial, sobretudo por causa das dificuldade que enfentei e enfrento. E fico muito esperançoso que um grupo de pessoas como vocês fumente tal discussão.
    Gostaria de colocar-me à disposiçãao de vocês e que me mantivessem informado dos acontecimentos e rumos que tal discussão possa tomar.
    Um abraço forte e podem contar comigo.

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  7. Oi Gente,

    Lendo este manifesto, penso o que será do espaço que sou responsável hoje, um teatro maravilhoso em Castelo Branco, que não é visto e nem lembrado, aliás, construído e esquecido pelo Estado. Hoje o Teatro XVIII, onde estive dias atrás, num show do Samba de Roda Urbano, fechando as portas..... tô com vcs, quero participar deste seminário, dessa discussão.

    Um grande abraço,

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  8. Olá meus caros,

    Mais uma vez sinto-me com a responsabilidade e o dever de contribuir com este grande exercício de cidadania. para tanto sugiro que busquem debates também nas rádios e tvs. São meios em que aspessoas podem participar virtualmente ou por telefone. Este debate é fundamental para para se esclarecer a funsal social do teatro.

    Sucesso para todos. Em especial para o TEATRO BAIANO

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  9. Queridos Amigos do Vila:
    Achamos coerente e oportuna a sua colocação ante fatos que vêm acontecendo não de agora,mas há muitos anos atrás.
    Nós estamos interessados, sim, em discutir politicas e fórmulas que nos ajudem a proteger o mais sagrado que construimos com o passar dos seculos, a nossa arte. Sem pretender fortalecer um paternalismo sob nosso próprio universo teatral.
    Estamos com vocês e disponiveis para qualquer discussão ou seminario.
    Abraços.

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  10. RESPOSTA URGENTE DE ADESÃO AO SEMINÁRIO QUE DISCUTIRÁ TODAS ESSAS QUESTÕES
    ENVOLVENDO POLÍTICAS PÚBLICAS!!!!!!!
    Estou à disposição para participar e ajudar no que for necessário.

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  11. Lamentável. É o mínimo que se pode comentar a respeito desse rude
    golpe na cultura local.
    Os problemas de verba e as alterações na Secretaria da Cultura (que
    ainda não chegaram à compreensão do grande público), aliados à
    insensibilidade da iniciativa privada local, permitiram que a situação
    chegasse a esse nível.
    A ferramenta do marketing cultural, quando utilizada com propriedade
    pelas empresas, é de enorme eficácia, mas carece de um conhecimento,
    mínimo que seja da realidade cultural da região.
    Estou certo de que, com a competência e tenacidade com que sempre
    conduziu os destinos do XVIII, Aninha Franco buscou patrocínio junto a
    diversas empresas, objetivando, minimamente, o funcionamento da casa.
    Algumas, sequer tiveram a dignidade de responder.
    Empresas locais, como a Coelba, por exemplo, que tinha no teatro
    baiano um dos seus principais focos de atuação em cultura, de repente,
    muda a sua estratégia e retorna ao lugar comum de trazer produções de
    atores globais, como foi o caso de "Dom Quixote", com o global Edson
    Celulari.
    Voltamos aos velhos hábitos da província de não valorizar a prata da
    casa. No caso da Coelba, segundo me parece, isso se agrava pelo fato
    de o poder decisório estar concentrado, atualmente, no Rio de Janeiro.
    Essa situação sempre foi fatal para as culturas regionais,
    principalmente quando não se tem nas filiais das empresas
    profissionais de visão, personalidade, competência e, porque não
    dizer, "culhão" para defender os interesses da cultura local e da
    empresa, ao invés de repetirem ad eternum a cantilena do "amém", e do
    "sim senhor"
    Falta às empresas a consciência de que o marketing cultural,
    esportivo, ecológico, comunitário, etc., são todos componentes dos
    seus programas de responsabilidade social e devem ser tratados com a
    seriedade que merecem, e não ao bel prazer do gosto e da preferência
    dos que têm o poder de decisão.
    A crise do teatro XVIII (e que não é só dele – aguardemos os
    pronunciamentos dos administradores de outras casas), só entristece e
    envergonha a Bahia que, por mais cultuada nacionalmente pela sua
    cultura, permanece sendo o quintal do outrora chamado "sul maravilha".
    Fechemos os XVIII, os Vila Velha, os pequenos teatros. Basta a
    permanência do TCA, para que possamos receber as grandes montagens, as
    grandes divas globalizadas, como também os seus espetáculos caça
    níqueis.
    Não importa. A galera do quintal comparece. Fielmente. E as empresas
    locais patrocinam. Orgulhosamente.

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  12. É um crime um teatro como XVIII fechar, é um absurdo, incompreensível e aviltante.Quando será que nós artistas não precisaremos mais mendigar... 10 anos de trabalho bem feito... até quando????

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  13. Até quando??? Fernanda Júlia Cia de Teatro Nata Alagoinhas

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