Essa geladeira, essa geladeira, essa geladeira...

Foto: Nicolas Soares

Livro de memórias. Uma mãe que sustenta gigolôs. Um mordomo tarado. Uma empregada chamada Goliarda e que as vezes se veste de cigana. A ligação inusitada de um amigo. Tudo isso faz parte da vida de L. e explode diante dos seus olhos, quando ela recebe, no dia do seu aniversário, um presente dado por sua mãe, A Geladeira!

Depois disso, são só surpresas! Num espaço de 10 minutos, L. fica perante sua solidão e frustrações e passa a viver com fantasmas que rondam sua cabeça. O refrigerador se torna um tormento para ela(e) que fica com medo de abrir a porta do inesperado presente.

Entre uma cena e outra, para trocar de roupa e retocar a maquiagem, tudo isso acontecendo no palco, L., que não sabe seu nome e que muda do sexo masculino para o feminino e vice-versa, o tempo todo, ainda se vê obrigada(o) a receber sua psicóloga e sua mãe que pretende extorquir dinheiro dela(e) para pagar suas aventuras sexuais.

As angústias e os sentimentos de prazer de L. são traduzidos pelos atores, que deixam passar para o público uma existência vazia e superficial da personagem, sem perder o tom irônico e divertido que já é da vida.

Imagine como seria, se algumas pessoas desse mundo recebessem de aniversário uma geladeira e a partir disso começassem a repensar suas vidas? Ah! Essa geladeira...

A Geladeira fica em cartaz no Cabaré dos Novos do Teatro Vila Velha
até o dia 26 de setembro, sempre às terças e quartas, 20 horas.
Ingressos: R$ 16,00 (inteira) e R$ 8,00 (meia)


Comentários

  1. O teatro é sempre uma caixa de surpresas. Não sou de Salvador, sou Catarinense e moro em São Paulo há 30 anos, portanto, testemunha de um teatro rico e vigoroso, bastante diverso. Fui levada por um amigo para assistir a este espetáculo, A Geladeira, como mais um delicioso programa cultural que estou acostumada a fazer na minha cidade. Não conhecia o Teatro Vila Velha, de tão perto, apenas informações de Jornal ou testemunhos de amigos que residem em Salvador e dei de cara com um lindo Jardim Público com uma vista privilegida numa noite de um clima absolutamente agradável.
    Ao entrar no teatro tive uma sensação de que já estivera naquele lugar, mesmo sabendo, que nunca o conhecera antes e comentei com o meu amigo acompanhante o que se passara e este me deu um sorriso de cumplicidade. O cenário que aconteceu depois somente hoje pude descrever, pois o espetáculo arrebatou-me de tal forma que só mesmo o silêncio foi capaz de fazer com que o turbilhão de imagens e vozes internas pudessem acalmar. Tenho a intuição que não assisiti apenas e espetáculo, eu literalmente VIVI esse espetáculo, fui levada pra dentro daquele mundo como numa viagem ao túnel do tempo, experimentei as delícias do fazer de conta do personagem central, suas angústias, sua solidão. Parabéns pela qualidade artística, desempenho dos atores e encenação. Merda.
    Simone Sigatelli

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  2. Eu também gostei dessa geladeira. Ela é surpreendente e abusada, menos até pelo enredo absurdo e mais pelas viagens que esse texto permitiu ao encenador, ao elenco, e continua permitindo ao público. Achei bem bacana a forma despretensiosa de pendurar as idéias no teto, ops, digo, deixar as roupas em suspenso, digo, deixar uns pensamentos voando por cima das cabeças da gente. Beijos nos amigos todos do elenco, principalmente naquela senhora, quem diria, tão pornográfica.

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  3. UMA GELADEIRA HISTÉRICA


    Um absurdo frenético e por demais poluído. O texto cheio de referências (França), uma montagem cheia de mil outras informações, no teto e no chão. Por que não deixar a fala do personagem sugerir? Por que tudo tem que ser como no teatro realista? Pão, alcaparras, danones, telefones, e atores que se levantam pra alimentar um rato, roubando o foco de outro ator brilhante, (Manthur) que fecha o espetáculo com um monólogo engraçado, mas denso, pausado, numa atmosfera que pede a linha do teatro do absurdo.
    O espetáculo segue num crescente que por demais, cansa. Há muita gritaria, e os clichês do histerismo deixam o espetáculo quase num ôba ôba sem graça. Não que todos estejam numa fria, mas alguns atores fogem da unidade, no que diz respeito a construção do personagem “L”, que na verdade é um só. Mas um só que grita muito, um só que tem um corpo mais ágil, um só que dá as falas de forma mais pausada, um só que faz muitas caras e bocas, como num coro onde um quer cantar mais alto do que o outro. ( vaidade?) Compreendo que cada ator imprime sua marca na interpretação, mas a construção desse mesmo personagem, acredito eu, deveria ao menos trazer características semelhantes, que não fossem apenas na cabeça raspada, ou no figurino (igual pra todos) A minha impressão é de que o espetáculo ainda não é palpável para alguns atores. Há um divertimento preso numa camisa- de- forças, seguindo piamente o que pede a direção.
    O espaço cênico, que poderia ser mais neutro, é poluído por roupas penduradas no teto, por baús pichados, e por muitas roupas e objetos que vão se espalhando pelo chão ao longo do espetáculo.
    Já que o texto é todo fragmentado, dividido para vários atores, quando na verdade (é) seria um monólogo, por que não fragmentar o texto final, dividindo-o com todo o elenco na mesma atmosfera empregada por Mantur? Acho que os atores estão numa pseudo-loucura em cena. Uma loucura muito dirigida, muito certinha. Por que não se permitir de verdade a brincar com o texto, e sair dos gestos e dos gritos, típicos de um teatro besteirol e canastrão?
    Ressalto aqui, a brilhante governanta Guliarda, interpretada por Mônica, o vigor de todos os atores em cena, em especial Soninha, que dá um show na tranqüilidade de quem conhece bem as façanhas do teatro.
    Essa geladeira! Essa geladeira! Precisa esquentar, porque senão, não tem gorjeta Seu Cotovia!!
    Ivan Santtana

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  4. Caros amigos, publiquei este comentário ontem, e estou o fazendo hoje novamente, com algumas alterações que achei mais coerentes. É apenas um olhar mais atento de quem lida com o fazer teatro.
    Abração em todo o elenco.

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