Maria em movimento
A luta secreta de Maria da Encarnação - foto: Priscila Povoas
O que o público espera de uma leitura dramática? O que você acha de atores sentados em círculo ou em linha horizontal na boca de cena (posição frontal do palco em que geralmente acontecem as cenas mais importantes)? Ou quem sabe os atores lendo e interpretando apenas com expressões faciais e gestos mais econômicos, talvez levantando um pé ou erguendo um braço para dar ênfase aos diálogos. Mas, quando se trata de Fernando Guerreiro, o resultado pode ser outro.
Neste ano, em que o ator, diretor e dramaturgo Gianfrancesco Guarnieri se imortalizou na História das Artes Cênicas no Brasil, o Teatro Vila Velha pensou numa forma de homenageá-lo, levando em consideração que foi com uma peça de sua autoria que o Vila estreou: Eles Não Usam Black-Tie, a primeira peça de Guarnieri, escrita em 1958, e encenada pela Companhia Teatro dos Novos, em 1964.
Por meio do projeto VilaLê Guarnieri, a Companhia convidou três renomados diretores do cenário teatral baiano: Ewald Hackler, Fernando Guerreiro e Harildo Déda, dando a eles a incumbência de selecionar do repertório do autor uma de suas peças. Harildo escolheu o espetáculo de inauguração do Vila, Hackler elegeu Ponto de Partida e Guerreiro preferiu contar a história de uma "mulher brasileira, sofrida, doce, bem humorada e batalhadora" (nas palavras dele): A Luta Secreta de Maria da Encarnação.
Em dez de novembro, "Maria" foi para o palco do Vila, sob a direção de Guerreiro. E aí, enquanto muitos comentavam: "Um dia também irei ler alguma coisa em público e cobrar para que me vejam", ou, "Vai ser preciso um pouco de paciência pra ver essa galera sentada, lendo, sem parar, um texto que eu ainda nem conheço". Ora, pura ignorância! Perdoável, talvez. Não sabendo eles que o Sated-Ba (Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão) foi quem exigiu a simbólica cobrança de três reais. E eu, que também sou ator, acho "j usto, muito justo, justíssimo!", como diria José Wilker, ao interpretar Belarmino, na novela Renascer.
Satisfação a minha foi assistir essa leitura de "Maria da Encarnação", que poderia até já significar uma prévia da montagem desse espetáculo. Espero que Guerreiro não se contente apenas com essa homenagem a Guarnieri, que foi maravilhosa, mas que resolva montar o que aquilo que ele denominou de uma Leitura em Movimento. Para mim, ele conseguiu encantar o público.
Nessa primeira sessão, atores jovens e talentosos, como Mariana Freire, dividindo o palco com a atriz Neyde Moura que, com muita musicalidade, segurança e um grande domínio das intenções do texto, fizeram dessa leitura dramática um evento singular no teatro baiano. Com uma disposição de cadeiras em níveis e posições diferentes, um entrecruzamento de diálogos bem articulado, uma trilha sonora especialmente composta por Iran Monteiro e uma iluminação cênica que criou uma atmosfera bem dinâmica para a leitura, muita gente saiu do Vila de alma lavada.
Agora, é aguardar para que esse espetáculo seja montado com tudo que ele tem direito: cenário, figurino e muita beleza. Salve Guarnieri!
Texto enviado por Arlon Carlos, estudante do 6º semestre de jornalismo das Faculdades Jorge Amado
Bacana, velho. Mas uma pergunta: O Sated exigiu? Como assim exigiu? Não entendi...
ResponderExcluirAbraço, Gordo.
Parabéns Arlon!
ResponderExcluirGostei muito do texto. Indo neste caminho quem sabe você não será um novo Samuel Johnson, mas com uma característica peculiar do toque baiano. Sem ufanismos é claro. rs,rs...
Abraços.
Boa Sorte
Olá Arlon,
ResponderExcluirFiquei feliz ao ler seu texto. É muito importante saber que o bom gosto e a sensibilidade estão no ar