UNIVERSIDADE LIVRE DE TEATRO VILA VELHA - Diário LIVRE da atriz - Por: Carolina Lira



Capítulo de hoje (25/04/2019): sustentar coisas delicadas

Quando eu era pequenininha queria ser grande.
Vivia repetindo sempre: “eu não sou quiança!”
Tinha vezes que ficava emburrada e de calundu.
Hoje me busco na minha infância.

Aprendi que transição é a vida inteira, mas volta e meia me pego correndo atrás da garotinha que fui para (re) aprender algumas lições. Apesar dos pesares, uma caminhada bonita vem sendo construída.
Hoje uma imagem no Instagram foi um disparador na hora de começar a escrever. Pra cego ver: é uma imagem em preto e branco em que há um braço estendido e uma mão em forma de concha segurando um potinho de vidro redondo com cinco flores dentro. A legenda era: "sustentar coisas delicadas". Comentei no perfil da autora, a fotógrafa Mariana David, que eu adorava essa foto e ela respondeu: “te dedico com carinho”.
Me veio um tsunami de sentimentos ao encarar essa foto e me fez pensar no quanto é difícil sustentar coisas delicadas.
Afetos.
Principalmente afetos.
Nesses últimos dias estamos convivendo com o mantra:
corpo disponível,
afetos abertos.
Como é difícil sustentar afetos recém-paridos que a gente ainda nem sabe que nome dar, só sabe, e isso sabe-se muito bem, que são como bebês que acabaram de nascer e precisam de cuidados.
Como juntar delicadeza, afetos e política sem coletividade?
Qual a arte mais coletiva que o teatro?
Em um mês de experimentos com o Teatro do Oprimido e o Teatro carnavalizado já foram inúmeras lições de vida.
O teatro me ensina a cada dia sustentar afetos, escolhas e delicadezas. Em um cenário político desalentador como o que estamos vivendo, sendo artistas no nosso convívio, escolher o teatro é uma escolha política e trabalhar em coletividade também se trata de sustentar delicadezas.
Volto para a menina que fui
e encho o peito de coragem,
seguro na mão dos que estão ao meu lado
na ciranda da vida
em meio ao Circo Etéreo que fizemos juntos e lembro:
“Dar não dói,
o que dói é resistir.”

Tati: um corpo que antes de mim, já contemplava esta memória, diz:
“todo amor que houver nessa vida”
leia ouvindo essa outra potência citada no texto
coincidência.
ela estava ouvindo enquanto lia.

 Carolina Lira, Atriz da Universidade Livre do Teatro Vila Velha.

Aqui, para o instagram da Mariana: https://bit.ly/2J4s7MB
E aqui, para a música de Cazuza: https://bit.ly/2VAo6X0 



          



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