Teatro Vila Velha comemora 50 anos com Jango, peça de Glauber
Eduarda Uzêda / Jornal A Tarde
Trata-se da peça "Jango", escrita em 1976, que aborda a vida do presidente João Goulart durante o exílio, depois de ser deposto pelo Golpe Militar de 1964.
Meirelles, 42 anos de teatro, revela que a montagem, contada a partir do ponto de vista de Jango, conta com personagens da época, como Luis Carlos Prestes, Carmem Miranda, Luis Buñuel, Regis Debray e Miguel Arraes. A previsão de estreia é o dia 31 de julho.
Grande produtividade
Sem dúvida o diretor mais produtivo de teatro este ano - desde janeiro já montou as peças "Troilus e Créssida", "Por Que Hécuba", "O Último Godot", "Esperando Godot", além de Experimentos Macbeth e Hamlet -, Meirelles anuncia nova montagem do romeno Matéi Visniec.
E mais: em junho, em Cabo Verde, dirige "Em Defesa das Causas Perdidas", peça que dialoga com o filósofo Slavoj Zizek e o clássico "Dom Quixote", de Miguel de Cervantes. "Em Defesa das Causas Perdidas", obra homônima de Slavoj Zizek, investiga o cerne das chamadas políticas totalitárias.
O diretor baiano afirma que a ideia de montar Jango surgiu quando trabalhava nas peças Hamlet e Macbeth, em comemoração aos 450 anos de Shakespeare.
Golpes
"Estas peças falam de golpes para tomada de poder. Um belo dia, discutindo, caiu a ficha e me lembrei que, desde o final da década de 80, tinha este texto de Glauber, que também fala do golpe e tem tudo a ver com os 50 anos do Vila e 50 anos da ditadura militar", frisa.
Ainda segundo o encenador, o texto foi escrito durante os dias 13 e 15 de novembro de 1976 e termina com a morte hipotética de João Goulart.
O que não deixa de ser curioso, pois na vida real, pouco menos de um mês depois, em 6 de dezembro do mesmo ano, Jango morreu durante o exílio em sua fazenda em Mercedes, na Argentina.
A peça, além do regime militar, trata de períodos como a Era Vargas, os governos de Juscelino e Jânio Quadros. Possivelmente, como o cineasta baiano trabalhava com audiovisual, a montagem poderá utilizar deste recurso. "Mas não posso dizer com certeza. São coisas que se decidem durante o processo", enfatiza o diretor.
Admiração por Glauber
Meirelles fala de sua relação com o cineasta: "Tenho grande admiração pelo pensamento político e estético de Glauber Rocha. Ele faz parte da minha formação, assim como Zé Celso, Milton Santos, Celso Furtado, entre outros", acrescenta.
Márcio explica por que a opção de montar o texto com alunos da Universidade Livre do TVV: "Este projeto, a universidade, é a síntese do que tem sido o Vila Velha, um centro de formação, inovador, de construção de atores políticos, que entendam que fazer teatro implica um compromisso com a sociedade", diz, acrescentando que a juventude não tem referência de quem foi realmente Jango, da sua importância para o país.
"O texto de Glauber mostra que a circunstância é que faz a ação e que quando se está em determinados lugares e se tem que tomar decisões, nem sempre elas são do seu agrado pessoal. Jango, por exemplo, poderia ter resistido. Ele tinha apoio, mas sabia que poderia haver uma greve civil", frisou.
60 anos
Sobre como encarou fazer 60 anos, Meirelles disse que é um marco que provoca reflexões. "Mas sou muito feliz em ter o privilégio de estar lúcido, produtivo, compartilhando o saber. Não gosto quando me chamam de jovem. Acho que, com o passar do tempo, temos uma visão mais alargada da vida e nos tornamos mais generosos", concluiu o encenador.
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