É hoje! Aniversário do Teatro Vila Velha - 49 anos de atuação política, social e cultural
Questionador por natureza, o Vila completa 49 anos hoje: 31 de julho de 2013. Sempre de portas abertas para o público.
Movimento Passe Livre Salvador, reunião realizada no Teatro Vila Velha em 27 de junho de 2013 |
Desde a sua inauguração, exatos quatro meses após o golpe militar que instalou uma ditadura, cujos efeitos ainda sentimos no Brasil, o Vila é um lugar de liberdade, que entende teatro como uma ferramenta de transformação social. A história começa a partir de um entrave político, quando a primeira turma concluinte da Escola de Teatro da Ufba decide romper com o curso e criar a Sociedade Teatro dos Novos, em 1959, por discordar do método e da direção de Martim Gonçalves, àquela época.
Engajados na busca de um teatro que dialogasse diretamente com a sociedade (perspectiva do Vila até os dias de hoje), o grupo dissidente, formado pelos atores Othon Bastos, Sônia Robatto, Carlos Petrovich, Carmem Bittencourt, Echio Reis, Teresa Sá, Maria Francisca, era liderado pelo então professor João Augusto, e ainda incorporou outros grandes atores e atrizes, como Nevolanda Amorim, Marta Overbeck, Mario Gusmão, Mário Gadelha e Wilson Mello.
Essa geração, com a fundação do Vila, em 1964, começou a construir um pensamento político em torno da valorização da dramaturgia brasileira e da cultura popular. A peça de estreia do Vila é um exemplo bem claro dessa escolha: “Eles Não Usam Black-Tie”, de Gianfrancesco Guarnieri (ou “Eles Não Usam Bleque-Tai”, na versão de João Augusto). O artista levantava aí um debate sobre o conceito de nacional e inovava, por exemplo, ao incluir a Escola de Samba Juventude do Garcia na encenação.
A trajetória de luta e resistência continua. Dessa história, faz parte o atual diretor artístico do Vila, Marcio Meirelles, responsável pela revitalização do teatro baiano duas vezes: na década de 70, com o Avelãz y Avesturz, e em 1990, com a criação, juntamente com Chica Carelli, do Bando de Teatro Olodum, formado somente por atores negros. O Bando trouxe para o Vila a discussão político-racial, a cultura e o lugar do negro na sociedade. A partir da gestão de Meirelles, o Vila entra numa dimensão de construção coletiva, que mantém seus embriões ideológicos e investe numa geração de criadores das mais variadas linguagens e propostas estéticas, reativando o teatro com os grupos residentes.
Em maio de 1998, o Vila reestreia, completamente reformado, com a montagem "Um Tal de Dom Quixote", que reunia o Bando de Teatro Olodum e trazia de volta à cena a Companhia Teatro dos Novos, núcleo fundador do espaço. Neste mesmo ano, constituía-se o Núcleo Viladança, idealizado pela bailarina, coreógrafa e diretora Cristina Castro. E foi com a artista, em 2007, que se criou o VIVADANÇA Festival Internacional - um mês inteiro de programação para pensar, discutir e celebrar a dança da Bahia, do Brasil e do mundo. Nesse contexto, ainda estão a companhia infanto-juvenil Novos Novos, e os ex-grupos residentes “Vilavox” e a “A Outra Companhia de Teatro”.
São muitos os meios de diálogo e de reinvenção. Incorporado nesse sistema, sempre se explora todas essas possibilidades, estabelecendo conexões com as diversas ciências e campos do saber. O debate sobre a vida política e cultural é uma constante do espaço. Não é à toa que o Vila abriga projetos como “A Cidade Que Queremos”, que surge a partir da manifestação popular e da criação do Movimento Desocupa; e, mais recentemente, demonstrando seu apoio ao Movimento Passe Livre Salvador.
Participativo, o Vila questiona as políticas de fomento à Cultura, as estratégias de formação de platéia e os meios para o fortalecimento da Economia da Cultura, chamando a atenção das instituições e órgãos públicos, das entidades não-governamentais e da sociedade de maneira geral.
Dessas reflexões críticas sobre o papel, a atuação e a forma como essas práticas interferem na configuração social, política, econômica e, principalmente, cultural, surgem os fundamentos para os vários programas e atividades desenvolvidos por esse organismo intenso de idéias e questionamentos, a exemplo da recém criada universidade LIVRE de teatro vila velha (a LIVRE), que se conecta com as idéias do artista visual e ativista político-cultural alemão Joseph Beuys (1921-1986), Zé Celso (Teatro Oficina) e outros artistas e coletivos que pensam a arte como ferramenta política de transformação.
A partir da proposta da LIVRE, o Vila se reinventa continuamente, deslocando a construção dos processos artísticos para lugares em que os participantes exercem plena e conscientemente toda a autonomia criativa e de gestão. Essa consciência se instala por meio de ações multidisciplinares, transversais e poéticas, nos quais os participantes entram em contato com conhecimentos de iluminação, sonorização, cenografia, produção, processos em rede, comunicação e muitos outros que tenham por objetivo a construção de um saber teatral pleno.
Dia 31 de julho, a gente celebra o Vila e parabeniza o público por viver toda essa história com a gente!
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