Teatro Vila Velha lança acervo virtual com 10 anos de memória
A plataforma abriga conteúdos históricos gráficos, documentais, audiovisuais e fotográficos que registram grandes momentos do teatro baiano de 1994 a 2004
O Teatro Vila Velha guarda documentos que contam boa parte da história do teatro baiano. A partir do dia 26 de junho, parte dessa trajetória, de 1994 a 2004, será disponibilizada para o público com o lançamento do site teatrovilavelha.com.br/memoria, iniciativa da Companhia Teatro dos Novos com o intuito de democratizar o acesso à história do teatro para pesquisadores e artistas que buscam conhecer, se inspirar, criar novas obras e divulgar a história do teatro brasileiro.
A plataforma também busca ser acessível para toda a população não especializada e a todos os interessados no Vila, no teatro, na cultura e história da Bahia. O site será lançado oficialmente dia 26/06, sábado, às 16h em uma live no Youtube do Vila (youtube.com.br/teatrovilavelha) que traz como tema “O acervo como fonte de criação”. A live contará com a participação do encenador e diretor artístico do Teatro Vila Velha, Marcio Meirelles e do jornalista, curador e crítico de arte, Marcelo Rezende, que também foi diretor do Museu de Arte Moderna da Bahia (2012-2015), diretor artístico da 3a Bienal da Bahia (2014) e integrante do grupo de curadores da 28a Bienal de São Paulo (2008), entre outros projetos e atividades de importante contribuição para os acervos artísticos do Brasil.
“O período compreendido pelo projeto é o da reconstrução, transformação e ampliação do prédio e de suas ações. A política de residência de grupos, a atuação deles e os resultados disso foram base para o desenvolvimento de muitas carreiras internacionais para artistas que declaram sempre a importância dos anos de aprendizado no Vila”, revela Márcio Meirelles, diretor artístico do Teatro Vila Velha e coordenador do projeto.
Na plataforma é possível navegar por momentos icônicos da história do Vila, acontecimentos que tiveram contribuição essencial para o desenvolvimento do teatro baiano, como a criação da Sol Movimento da Cena, a restauração da Companhia Teatro dos Novos, a consolidação do Bando de Teatro Olodum, e a criação de grupos como o Viladança, VilaVox, a Cia de Teatro Novos Novos, e a Outra Companhia de Teatro.
“A ideia é que o site seja conciso e didático, possibilitando uma pesquisa fluida para os pesquisadores e curiosos sobre história do Teatro. As décadas estarão dispostas em uma linha do tempo horizontal, ao clicar em uma delas, os anos que a compõe se revelam em linha vertical. Dentro de cada ano haverá os documentos que registram os acontecimentos do período”, explica Victor Miranda, desenvolvedor do site.
Além disso, o conteúdo do site também compreende o surgimento e o legado de grandes atrações do Vila como o Meia Noite se Improvisa, Baila Vila, Oficinas Vila Verão, o começo das carreiras de Lázaro Ramos, Wagner Moura, Virgínia Rodrigues e outros grandes atores, e por fim, a criação o projeto Teatro de Cabo a Rabo, que aproximou a produção cênica de outros municípios, trazendo a diversidade do interior para o Vila.
Foi também neste período que o Vila passou por uma reconstrução, ganhando salas de ensaio, um café, e a transformação do teatro galpão em um teatro contemporâneo com palco capaz de se transformar e abrigar diversas configurações espaciais, mudança que abriu infinitas possibilidades de dispor o palco e a plateia, expandindo os horizontes da cenografia e da criação de dramaturgias espaciais.
“O Vila Velha e o Oficina são os únicos teatros criados por grupos independentes que renovaram a linguagem cênica brasileira nos anos 60. Outros da mesma natureza, no Brasil, desapareceram ou continuam, mas sem um corpo artístico que mantenha seu projeto estético e político, são apenas espaços para espetáculos” reforça Meirelles a respeito da importância de disseminar e preservar a memória de um espaço como o Vila.
Mesmo após o lançamento do site, o projeto pretende buscar novos recursos para abranger outros períodos da história do Vila e outros formatos de conteúdos históricos. O lançamento da plataforma é na verdade o piloto de uma iniciativa que pretende ser expandida ao longo dos próximos anos.
O projeto conta com a colaboração da arquivista Ivana Bittencourt na fase de organização do acervo documental. Ao longo do processo, Ivana auxilia, orienta, avalia e propõe subsídios para a tomada de decisão de um modelo de organização do acervo.
“Estamos trabalhando com um material muito valioso, é a documentação histórica de um dos mais importantes teatros do Brasil, um projeto que ajuda a contar boa parte da história do teatro baiano e brasileiro. Destaco também o cuidado com que esse arquivo vinha sendo tratado, não só no acondicionamento, mas na preocupação em mantê-lo preservado, respeitando a titularidade dos produtores”, revela Ivana.
Além da participação de Ivana, o projeto também conta com a consultoria da arquivista Aline Soares, responsável pela organização dos materiais do acervo. De acordo com Aline, o principal método de organização do projeto é o ano, toda a separação tem se desdobrado a partir desse critério cronológico.
“A partir da separação por ano a gente vai criando classes, subclasses e grupos, que pode ser uma divisão por artista, por grupos residentes, ou outras denominações. Dentro dessas classes existe também a divisão por tipo de documento. Ressalto que todas as divisões estão sendo feitas sempre respeitando os princípios da arquivologia”, explica Aline, que também ressalta o cuidado que os documentos estão recebendo na hora da digitalização para que não sejam danificados. Os documentos mais resistentes e preservados passam por um scanner de produção comum, enquanto os mais frágeis são digitalizados a partir de um scanner planetário.
Nesta primeira etapa, o foco foi em documentos administrativos, contábeis, epistolares, recortes de jornais, e materiais que requerem menor precisão de reprodução, para otimizar os recursos com o máximo de documentos possíveis. Outros materiais como cartazes, programas, filipetas e publicações, ficaram para a fase posterior.
“Junto com dois participantes da universidade LIVRE, Michel Santana e Julyana Costa, nós temos ido ao teatro para separar, organizar e higienizar esses documentos antes de enviá-los para a digitalização. Nessa etapa também vamos aprender como alimentar o site, para que ao longo dos próximos anos essa plataforma consiga ser constantemente atualizada”, revela Ananda Ikishima, atriz da Companhia Teatro dos Novos, produtora do projeto.
O projeto tem apoio financeiro do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura e da Fundação Pedro Calmon (Programa Aldir Blanc Bahia) via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal.
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