Premiada peça de El Salvador, "Do outro lado do mar" ganha versão brasileira

Texto teatral rendeu à autora Jorgelina Cerritos o prêmio Casa de las Américas, em 2010. Primeira montagem brasileira tem encenação virtual de Marcio Meirelles com Andréa Elia e Edu Coutinho no elenco.

Primeira versão brasileira da obra de Jorgelina Cerritos, uma das mais importantes dramaturgas de El Salvador, Do Outro Lado do Mar estreia dia 30 de maio de 2021, em formato digital, com encenação de Marcio Meirelles. O elenco é formado por Andréa Elia e Edu Coutinho, que também assina a tradução do texto para o português, com a colaboração de Meirelles. As sessões acontecem ao vivo, no Novo Vila Virtual, palco virtual do Teatro Vila Velha, sempre aos domingos, às 19h, até 20 de junho. O projeto é realizado pela Companhia Teatro dos Novos em parceria com o Toró Teatro. Os ingressos estão à venda em www.sympla.com.br/vilavelha.

O texto, que rendeu à autora Jorgelina Cerritos o prêmio Casa de las Américas, em 2010, já foi montado em países como Cuba, Costa Rica, Guatemala, Panamá, República Dominicana e Estados Unidos, e ganha agora a sua primeira versão no Brasil. No dia 2 de junho, quarta-feira, haverá bate-papo aberto ao público com a autora Jorgelina Cerritos, a partir das 19h, com transmissão gratuita pelo Canal no YouTube do Teatro Vila Velha (www.youtube.com/teatrovilavelha)

A peça acontece em uma praia deserta, onde foi instalado um balcão de atendimento da prefeitura para serviços burocráticos. Ali, uma funcionária pública dedicada e prestes a se aposentar espera sozinha alguém que apareça precisando do seu trabalho. De um barco chega um homem jovem, sem nome ou sobrenome, que não sabe onde nasceu, em busca da emissão de um documento que comprove a sua existência. Assim surge uma história sobre identidade real e identidade oficial carregada de poesia que, com aparente simplicidade, provoca uma profunda reflexão sobre o trabalho, a solidão e a busca de identidade.

"O texto estava entre uma série de livros latinoamericanos de dramaturgia que comprei numa espécie de feira latino-americana, num festival de teatro, e que ainda não tinha lido. Edu e eu tínhamos o desejo de montar uma nova peça juntos, então entreguei os livros para que ele lesse e propusesse. Um dia ele me falou que era este, mandou parte da tradução e topei", conta o encenador Marcio Meirelles.

"É um texto que nos pega primeiro pela poesia, pela beleza das imagens contidas nas palavras, e que vai sutilmente nos virando de frente para as contradições dessa sociedade ocidental, capitalista, que padroniza os modos de vida e determina quais vidas valem mais, quais valem menos, quais aquelas que nem sequer existem", comenta Edu Coutinho, ator e produtor do projeto. "Me encantei na primeira leitura e imediatamente comecei a traduzir. Eu e Marcio convidamos Andréa Elia para interpretar a personagem feminina e, em poucas semanas, já estávamos ensaiando, revendo juntos a tradução, montando a equipe, conversando com a autora", conta Edu.

"Do outro lado do mar" é construída a partir do encontro entre dois personagens com histórias de vida e visões de mundo radicalmente contrastantes. Dorotea, mulher mais velha, funcionária pública responsável pela emissão de documentos, persegue uma ideia de sucesso associada à produtividade: vive para o trabalho e busca a felicidade sendo útil, servindo ao público. Já o jovem Pescador vive no mar, a princípio livre de qualquer preocupação com uma vida "oficial": não tem nome, sobrenome, endereço ou qualquer documento. Numa relação que muda constantemente de frequência e temperatura, como o mar, o texto vai revelando também os diversos pontos que aproximam essas duas pessoas. Nada é óbvio, como lembra a atriz Andréa Elia: "Venho conhecendo Dorotea, nascida da profunda e sensível escrita de Jorgelina Cerritos. Lembro do que ouvi de Márcio nos primeiros ensaios, quando queríamos entender as personagens: 'Se explicarmos muito o mistério se perde'".

A autora salvadorenha Jorgelina Cerritos tem também sido uma parceira do projeto desde o início. É a primeira vez que um texto seu é montado por artistas brasileiros, embora apenas a peça "Al otro lado del mar" já tenha sido encenada em seis países diferentes: "É muito significativo que a peça tenha a capacidade de dialogar com criadores, criadoras e espectadores da cena internacional, pois me confirma a universalidade e a força da palavra dramática, essa palavra que nos habita e nos fecunda para além das fronteiras".

Sobre as expectativas para a montagem brasileira, Jorgelina conta que a maior delas é o diálogo, o encontro, e que essa já foi cumprida. "Com as conversas que tive com parte da equipe de criadores vem à tona a intensa conexão que o texto lhes provocou. Espero que o espectador faça junto conosco a viagem que o texto propõe até o vital, até o humano, até aquilo que costuma ser tão fugaz e efêmero como o teatro e como a vida", complementa.

À equipe artística somam-se Caio Terra e Ramon Gonçalves, que assinam a direção musical; Clara Trocoli, responsável pela assistência de direção; Rafael Grilo, responsável pela produção audiovisual; Erick Saboya, que assina o cenário; e Moisés Victório, que assina o desenho de luz e a transmissão ao vivo. Todos trabalhando remotamente, cada um em sua própria casa. 



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