Um convite
Lavínia Alves em Espelho para Cegos. Foto de João Milet Meirelles |
Por Lavínia Alves, Teatro dos Novos
Desde que entrei no Vila, escuto várias versões de como o nosso Teatro
Vila Velha foi concebido. Todas as versões passam por um grupo de jovens que
estudavam teatro na UFBA, e depois de um desentendimento com um dos
professores, resolveram se juntar e inventar o seu próprio jeito de fazer
teatro, coisa que já queriam há tempo. Começava então o Teatro Dos Novos,
companhia de teatro que está quase completando sessenta anos.
Esse texto não é exatamente sobre essa companhia. Apesar dos inúmeros
espetáculos que foram montados, da variedade de artistas que passaram por ela,
o que me chama mais atenção na história toda é a força de jovens unidos e uma
certa desobediência que me é familiar. Desobediência que impulsionou o grupo de
alunos e o seu professor João Augusto, a inaugurarem em 1964, ano do golpe da
ditadura militar, o Teatro Vila Velha.
Vivemos tempos estranhos, difíceis, de retrocesso na cultura e em
diversas áreas do nosso país. Tempo este em que a arte fica de segundo plano e
vive sob constantes ameaças numa onda extremamente conservadora e arrogante.
Eu vejo o futuro repetir o passado. Sim Cazuza estava certo. Nesse museu
de grandes novidades, já sabemos que para o teatro sobreviver temos que ter
coragem. Coragem própria de juventude. Que tem em si um ímpeto de realizar, e
apesar de sabermos o quão difícil é fazer o que tem que ser feito para ser
artista no Brasil, simplesmente fazem.
Marcio Meirelles, convidou um grupo de recém-formados da universidade
LIVRE do teatro vila velha – programa de formação de atores do Vila - para
reinventar o Teatro Dos Novos. Eu faço parte desse grupo. Ainda sinto que
estamos entendendo o que é fazer parte desse coletivo, ainda sinto que não faço
ideia da força que isso tem, mas estou confiante do caminho.
Espetáculos estão sendo feitos, produções sendo produzidas, e atores
estão sendo formados. Num encontro de novos com veteranos, a mágica novamente acontece.
Organizando o caos, dançando com as adversidades, a gente faz tragédia
grega para falar do hoje. Invocamos Hécuba para falar de mulheres, do machismo,
do mundo. A gente recita Shakespeare para reverberar o palco da vida, a gente
faz Espelho Para Cegos para refletir a nossa sociedade torta. Fazemos teatro
para fazer pensar.
O Vila me ensina diariamente que para mudar o mundo precisamos de
trabalho coral. Polifonia, muitas vozes e mãos. Vozes questionadoras, e que
afinadas soam muito mais bonitas.
Esse texto, descobri agora, é um convite. Convido você que está lendo
para vir ao teatro, para conhecer e reinventar junto com a gente a companhia
que deu início a esse lugar especial. Vamos redescobrir o nosso jeito de fazer
arte, de fazer política, de trazer plateia, de formar plateia.
O Teatro Dos Novos continua em atividade, sempre e mais. Querendo
alcançar gente, pessoas diversas, mostrando que cultura é sim prioridade. Feliz
em fazer parte dessa juventude que se forma, faz e realiza, nesse lugar de
encontros, chamado Teatro Vila Velha.
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