Marcio Meirelles estreia “JANGO: UMA TRAGEDYA” – única peça teatral de Glauber Rocha – no Teatro Vila Velha
O texto revive o ex-presidente João
Goulart, exilado após o Golpe Militar, e instala na cena um debate
contemporâneo sobre o cenário político atual, no mesmo palco em que o Estado
brasileiro pediu desculpas e indenizou a família de Glauber pela censura e
perseguição criminosa ao cineasta baiano, em 2010
Foto Bruna Castelo Branco
Tropicalista,
carnavalesca, irônica, mágica e polifônica, a montagem de Marcio Meirelles é um
épico musical, em que a coreografia de Cristina Castro e a trilha sonora
original e identidade visual do Tropical Selvagem (Ronei Jorge/João Meirelles e
Lia Cunha/Iansã Negrão) se juntam para criar um painel de encontros, trânsitos,
memórias e entraves ideológicos do projeto político de João Goulart, conforme
escrito por Glauber Rocha. As ideias de Jango, no texto (escrito em 1976)
confundem-se com o pensamento do próprio cineasta, que o conheceu em 1972,
durante o exílio, e com quem compartilhava uma admiração recíproca. “JANGO: UMA
TRAGEDYA” reflete a história, mas segue o fluxo dos movimentos e diversas
questões do agora. O encenador Marcio Meirelles vê no espetáculo um diálogo
ainda muito contundente. De quinta a sábado, às 20h. Domingo, 19h. No Teatro Vila
Velha. Até 28/01.
Com
um elenco formado por jovens atores da “universidade LIVRE de teatro vila
velha” - completamente atuante nas diversas etapas e áreas de construção desse
trabalho – o espetáculo se fortalece com as participações especiais dos veteranos
Celso Jr. (ator com mais de 30 anos de carreira), Sergio Laurentino (Bando de
Teatro Olodum), de atores formados na LIVRE: Vado Souza e Yan Britto
(intérprete de Jango) e do Balé Jovem de Salvador (companhia e programa de
formação em dança criado pelo bailarino e coreógrafo Matias Santiago). Além de
Jadsa Castro e Caio Terra como músicos da banda ao vivo.
Jango
teve o mandato cassado pelo golpe que estabeleceu a ditadura civil/militar no
Brasil por duas décadas, por ter proposto reformas que beneficiavam o povo e a
economia brasileiros e ameaçavam e contrariavam interesses das elites nacionais
e internacionais. Permaneceu exilado até a morte, que é encenada
premonitoriamente pela peça escrita menos de um mês antes.
“A
morte de Jango foi um golpe muito forte para o Glauber. Quando voltou do
exílio, Glauber tinha um projeto político, estético para o Brasil, e o Jango
estava nesse devir político, estético de um novo país”, recorda a cineasta
Paula Gaitán, viúva do artista.
A
primeira montagem da peça é do diretor Luiz Carlos Maciel, no Rio de Janeiro,
em 1996. Na peça, João Goulart
encontra-se com grandes personagens dos campos político, artístico, econômico e
intelectual, dos anos 1960 e 1970, colocando em questão o poder em suas
diferentes manifestações. No entanto, é sobre o Brasil que Glauber Rocha fala.
Diversos olhares sobre o país são confrontados a partir de encontros com
personagens como Carmem Miranda, Miguel Arraes, Leonel Brizola e Francisco
Julião. Marcio Meirelles conseguiu a autorização da saudosa Dona Lúcia,
mãe de Glauber, em 2007.
“O
que explode em Jango é uma visão poética, histórica, trágica, totalizante,
antropofágica, dilacerada, e, paradoxalmente, esperançosa sobre este pedaço da
América que Caetano definiu com belas palavras: Ilha Brasil pairando eternamente a meio milímetro do chão real da
América.”, sintetiza o jornalista Geneton Moraes Neto (1926-2016).
Inaugurado
quatro meses após o Golpe Militar, em 1964, o Teatro Vila Velha estabelece com
essa montagem tanto uma relação histórica quanto de alto valor simbólico: o
espaço se tornou um lugar de reação ao regime totalitário da época, onde
abrigaram-se artistas, intelectuais, movimentos sociais e estudantes. E
justamente por esse motivo sediou o julgamento da anistia política de Glauber
Rocha, em 2010, momento em que o Estado brasileiro pediu desculpas e indenizou
a família pela censura e perseguição criminosa ao artista.
JANGO:
UMA TRAGÉDYA tem apoio financeiro do Governo do Estado, através do Fundo de
Cultura, Secretaria da Fazenda e Secretaria de Cultura da Bahia.
Espetáculo JANGO: UMA TRAGÉDYA
Local:
Local: Teatro Vila Velha - Passeio Público, S/N, Campo Grande - Salvador - BA
Datas:
04, 05, 06, 07, 11, 12, 13, 14, 18, 19, 20, 21, 25, 26, 27, 28/01 (quinta a
domingo)
Horário:
20h (quinta a sábado) e 19h (domingo)
Duração:
1h10
Gênero:
musical
Classificação
indicativa: 14 anos
À
venda na bilheteria e no site www.teatrovilavelha.com.br
Informações:
(71) 3083-4600
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