Premiado espetáculo “Dissidente” realiza curta temporada no Teatro Vila Velha
Destaque da cena teatral baiana nos últimos anos, a montagem recebeu seis indicações e venceu duas categorias do Prêmio Braskem de Teatro
Foto: João Rafael Neto
Entre os dias 27 e 30 de julho, o espetáculo “Dissidente” retorna aos palcos baianos em curta temporada no Teatro Vila Velha, com apresentações de quinta a sábado, 20h, e domingo, 19h. A montagem da Companhia Teatro da Casa estreou em 2012, quando teve seis indicações ao Prêmio Braskem de Teatro, vencendo em duas categorias – melhor direção (Gordo Neto) e melhor atriz (Vivianne Laert). Desde então, participou de diversos eventos e festivais, como o FIAC, FILTE e o Festival Maré de Março. Em 2017, depois desta curta temporada em Salvador, o espetáculo viaja ao 18º Festival Internacional de Teatro de Brasília - Cena Contemporânea.
“Dissident, il va sans dire”, traduzido “Dissidente” pela professora doutora Catarina Sant’Ana, é um texto do renomado autor francês Michel Vinaver. A montagem com direção de Gordo Neto leva à cena, pela primeira vez juntos, a atriz veterana Vivianne Laert e o jovem ator Tato Sanches - que são mãe e filho, tais quais os personagens Helena e Felipe, da peça. O jovem de 17 anos mora com sua mãe e parece não estar muito motivado a encontrar trabalho. Já Helena, separada do marido - um ex-socialista que conheceu durante a luta política - trabalha numa empresa fazendo estatísticas de mercado. A falta de interesse do filho pelo trabalho, pela vida “normal”, suas relações de amizade com um grupo de jovens suspeitos e sua visível degradação física apontam para um fim inevitável.
O texto de “Dissidente” encanta pela sua comovente história e pela sua forma dramatúrgica rebuscada e poética, traço do autor, colocando na voz dos dois personagens frases tão bem construídas, escritas com um preciosismo ímpar, capazes de revelar, em situações aparentemente simples e cotidianas, a relação profunda entre mãe e filho. Da mesma forma vai, além disso, para, com a mesma aparente simplicidade, sobrepor histórias umas às outras, retomar assuntos que pareciam estar esquecidos, num imbricamento dramatúrgico que só um autor de sua estatura pode proporcionar. Sem rubricas e sem pontuação, o texto de Vinaver é um exercício de criação tão difícil quanto prazeroso, pois se deixa revelar justamente na cena, na fala que parece desconexa se apenas lida, mas que ganha sentido, intensidade, beleza e clareza próprias da interlocução cotidiana entre dois humanos que vivem juntos.
"Os diálogos sem pontuação, salvo os sinais de interrogação, a ausência de rubricas evidentes, as falas desencontradas ou sem respostas, a mistura súbita de referentes e de tonalidades emocionais as mais diversas no interior de uma mesma fala de personagem, um laconismo geral denso de informação e de suspenses, os quais, por sua vez, não se desfazem, nem nos pressionam tampouco, mas literalmente esfumam-se no ar, para ressurgir bem mais adiante, discretamente, perdidos no meio a outros dados; tudo isso liberado em ‘doze pedaços’ [...], não cenas, mas pedaços de real, sem nenhuma apresentação, nem mesmo pelos próprios personagens. É como se invadíssemos a vida de dois seres reunidos em momentos diversos e esparsos, e fôssemos obrigados a adivinhar do que se tratam no momento, a criar nós mesmos os elos, a costurar, enfim, os pedaços", escreve a professora Catarina Sant´Anna sobre o texto “Dissidente”.
Dissidente
27, 28, 29 e 30 de julho
quinta a sábado: 20h / domingo: 19h
Teatro Vila Velha (sala principal)
R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia)
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