Erê e o grito da arte negra há 25 anos
Cena de Erê, pela fotógrafa Andrea Magnoni
Neste ano estão sendo comemorados 25 anos de luta e resistência negra teatral do Bando de Teatro Olodum. Duas décadas e meia de trajetória teatral, com mais de 20 espetáculos que empreteceram milhares de pessoas pelo mundo inteiro com sua própria maneira negra de fazer teatro. Durante o ano inteiro a companhia vem comemorando o seu aniversário com festas no Pelourinho e Campo Grande e reencenações de seus antigos espetáculos de grande sucesso de público. A novidade agora é o grito de intimação do espetáculo Erê durante a sexta edição do Festival A Cena tá Preta. Os diretores e atores falaram conosco sobre o espetáculo e o futuro da companhia.
O Bando de Teatro Olodum surgiu em 1995 no dia 14 de Outubro nas proximidades da Escola de Medicina no Pelourinho, no encontro entre Chica Carelli, Marcio Meirelles, João Jorge, Maria Eugênia e Leda Ornelas, que deram início à companhia negra. Um dos primeiros grupos negro de teatro do Brasil foi uma novidade encantadora, surpreendendo a Bahia e com o tempo o Brasil e o mundo com sua maneira negra de fazer teatro. Desde o início Marcio Meirelles, hoje diretor artístico do Teatro Vila Velha, a partir da pesquisa de Teatro e Música, uniu toda uma geração negra no palco e na plateia para pensar sobre a posição de cada um no mundo e se expressar pela autoafirmação negra e crítica à opressão do sistema dominante.
Em 1996 estreava Erê Pra Toda Vida, com direção e texto de Meirelles a partir de improvisos do grupo sobre o assassinato de jovens em favelas, motivados pelo trágico acontecimento da Chacina da Calendária, no Rio de Janeiro. Depois de 19 anos, surge uma reencenação do espetáculo com novo texto de Daniel Arcades, concepção geral de Lázaro Ramos e direção compartilhada de Fernanda Júlia e Zebrinha. Erê renasceu apontando um futuro e presenteando a plateia com um belo espetáculo. Desta vez concebido em menos de dois meses, a música, a fala e o corpo em movimento poeticamente entraram numa sintonia perfeita.
Jarbas Bittencourt, diretor musical do espetáculo e da própria companhia, também verbalizou: "A gente usa do trunfo de ter uma equipe com intimidade, que trabalha muito tempo junto. Trabalhei com eles, deixei 80% da música levantada e viajei. Temos muito entendimento um do outro... Eu e zebrinha nos entendemos no olhar, e essa relação é muito próxima... Além disso, já existe uma parceria antiga entre mim, zebrinha e Fernanda Julia em outros espetáculos... O Bando já nasceu com a proposta musical e isso foi amadurecendo ao longo dos 25 anos. A musicalidade, assim como a dança, é algo bem importante e ao longo dos anos a gente criou um jeito de fazer, acho".
"Erê é necessário porque está falando de uma coisa muito importante e dolorida que é o extermínio da juventude negra e eu acho que o teatro tem que abraçar essas causas, tem que botar essa dramaturgia no palco onde o público venha e saia refletindo a partir do que viu no palco", acrescentou Jorge Washington, um dos atores que está no Bando desde a sua fundação, sobre a necessidade deste espetáculo pro mundo.
Erê permanece em cartaz até o dia 06 de dezembro junto com outros projetos de celebração da consciência negra, que integram o VI Festival A Cena Tá Preta. Ninguém pode perder a oportunidade de ir ao Teatro Vila Velha e ser tocado pela intimação poética e moderna de Erê. Venham festejar os 25 anos do Bando de Teatro Olodum com muita arte, cultura e conscientização.
*Gilberto Reys é integrante da universidade LIVRE de teatro vila velha e também estudante de história da UFBA
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