Universidade LIVRE incorpora audiodescrição à formação de atores e torna acessível a pessoas com deficiência visual o espetáculo Bença

Espetáculo Bença. Foto: João Milet Meirelles

A partir de 30 de maio, próximo sábado, o espetáculo Bença, do Bando de Teatro Olodum, passa a ser acessível a pessoas com deficiência visual através do recurso de audiodescrição. O lançamento marca uma ação inédita no Brasil: a incorporação da audiodescrição como atividade sistematizada de um programa de formação de atores - todo o processo foi realizado por integrantes da Universidade LIVRE de Teatro Vila Velha. A peça Bença permanece em cartaz de sexta a domingo, até 14 de junho, no Teatro Vila Velha, e a audiodescrição é oferecida ao público sempre aos sábados (20h) e domingos (19h).

"Fazer a audiodescrição de Bença foi um desafio. Sabíamos que seria um trabalho bastante complexo, por se tratar de um espetáculo/instalação, com linguagem não linear e com vinte atores contracenando entre si e com imagens em vídeo", conta Iracema Vilaronga, Mestre em Educação e Contemporaneidade e integrante da LIVRE que coordenou equipe com outros quatro atores do programa de formação. Durante cerca de um mês, o grupo trabalhou nas diferentes etapas necessárias para audiodescrever uma peça, entre elas o estudo do roteiro original, acompanhamento de ensaios, elaboração do roteiro audiodescritivo e, por fim, teste e execução.

Impactos na cena

Incorporar a audiodescrição como atividade sistematizada de um programa de formação de atores é uma ação inédita no país e tem mostrado impactos positivos no desempenho desses artistas. "Modificou a minha sensibilidade. Hoje, eu entro no palco e observo com muito mais cuidado o cenário, a movimentação, os gestos, noto detalhes mínimos, que passavam despercebidos", afirma a atriz Amanda Cervilho, uma das responsáveis por elaborar o roteiro audiodescritivo de Bença.

Os efeitos vão além do trabalho de ator, e passam a auxiliar também no processo de encenação. "A audiodescrição é um ótimo parâmetro para um encenador saber se o que ele está fazendo, montando, realmente chega no entendimento no espectador. Ouvir a audiodescrição do espetáculo tem me auxiliado na objetividade das imagens, das ações", conta o diretor Marcio Meirelles, que já se prepara para incorporar aos processos criativos a tradução para a Língua de sinais. "O meu desejo é que os atores, enquanto se movimentem, falem também em Libras, se comuniquem nas duas línguas. Vamos testar isso e ver como funciona", adianta.

Desafios

Desde 2014 o Teatro Vila Velha tem buscado oferecer o recurso de audiodescrição a suas produções. Esta ação começou através do Projeto Teatro para Sentir, realizado pelo Coletivo Diveersa, que permitiu a tradução em libras e audiodescrição de três montagens - A Mulher como Campo de Batalha, Relato de uma guerra que (não) acabou e Bonde dos Ratinhos. Mesmo após o fim do projeto, o Vila conseguiu manter a audiodescrição do infantil Bonde dos Ratinhos por outras três temporadas, graças a parceria com aACESSU - empresa de consultoria e treinamento em acessibilidade - até incorporar, a partir de maio de 2015, a atividade como parte de formação da Universidade LIVRE de Teatro Vila Velha.

Um dos maiores desafios tem sido a atração de pessoas com deficiência visual. Desacostumados a ter as salas de teatro preparadas para o seu acesso, o público exige um grande esforço de mobilização. "O hábito da frequência de pessoas com deficiências só será adquirido quando os espaços culturais disponibilizarem e divulgarem os recursos de acessibilidade, para que haja de fato a democratização da arte e dos produtos culturais e esse público tenha o teatro como opção de lazer e cultura", chama a atenção Iracema Vilaronga.

SOBRE BENÇA:
Espetáculo/instalação que celebrou os vinte anos do Bando de Teatro Olodum, trata do respeito aos mais velhos e homenageia o tempo, a memória cultural do povo negro e sua ancestralidade. Com linguagem contemporânea e não linear, o espetáculo trata a passagem do tempo como algo construtivo e enriquecedor. Não um tempo cronológico que simplesmente passa, mas o tempo das coisas, ou seja, ele é circular e traz benefícios. Em cena, os 18 atores e dois músicos contracenam entre si e com imagens em vídeo, projetadas em três telas. Aparecem Bule-Bule, Cacau do Pandeiro, D. Denir, Ebomi Cici, Makota Valdina e mãe Hilza - figuras emblemáticas, e guardiãs da cultura afro-brasileira, que dão depoimentos sobre os temas da peça. Os movimentos vêm de rituais afro brasileiros e a música trava um diálogo entre ritmos sagrados de tambores, vozes humanas e sons sampleados e manipulados digitalmente.

até 14 de junho //  sextas e sábados: 20h // domingos: 19h
*sessões com audiodescrição apenas aos sábados e domingos
teatro vila velha // R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia)
 
O Teatro Vila Velha é gerido pela Sol Movimento da Cena e conta com o patrocínio da Petrobras e com o apoio financeiro do Governo do Estado da Bahia através do Fundo de Cultura.

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