Fala Vila - Convidado: Prof. Carlos Moore
"Améfrica" revelada
No Fala Vila da última terça (26/04), o professor cubano Carlos Moore foi incisivo no esclarecimento sobre a presença da cultura negra no bloco continental americano e na denúncia das mais sutis tentativas de genocídio da população afrodescendente. A palestra foi assistida por mais de 60 pessoas, entre intelectuais e ativistas do movimento negro, artistas, estudiosos e interessados em geral.
"Améfrica" revelada
No Fala Vila da última terça (26/04), o professor cubano Carlos Moore foi incisivo no esclarecimento sobre a presença da cultura negra no bloco continental americano e na denúncia das mais sutis tentativas de genocídio da população afrodescendente. A palestra foi assistida por mais de 60 pessoas, entre intelectuais e ativistas do movimento negro, artistas, estudiosos e interessados em geral.
Carlos Moore revisa as anotações antes de iniciar a palestra
Contrariando a imagem associada aos acadêmicos, o professor Carlos Moore apresentou-se simpático e sorridente, pedindo desculpas antecipadas pelo seu português (na verdade, quase impecável), preferiu fazer a palestra de pé. Abrindo sua fala, Moore explicou como a idéia de chamar o continente de ?América Latina? exclui automaticamente a população afrodescendente das Américas e, por isso, apresentou o conceito de ?Améfrica?, cunhado pela autora Afrobrasileira Lélia Gonzalez.
De uma maneira geral, Carlos Moore falou da insistência dos países do ?bloco geocivilizatório? das Américas em negar a herança viva da África em suas terras. O professor citou como exemplos países cuja população tem maioria ou quase-maioria negra, entretanto, pateticamente, declaram-se brancos, como República Dominicana, Cuba, Panamá, Colômbia, Porto Rico e Venezuela. Para Moore, tal postura - adotada com várias nuances ao longo de todo o continente americano - revela que as nações se envergonham da presença africana, como se fosse uma mancha, e isso precisa ser combatido. ?A negação da presença física de uma população traz necessariamente a idéia de um genocídio, porque manifesta o desejo do desaparecimento dessa população?, denuncia, apontando como exemplo a ?invisibilização? do negro promovida pela mídia, que vende como padrão a cultura branca, dando pouco ou nenhum espaço à representação dos afrodescendentes, que hoje são mais de 215 milhões nos três componentes geográficos da América: América do Sul e Central (150 milhões), América do Norte (40 milhões), e o Caribe (25 milhões).
De uma maneira geral, Carlos Moore falou da insistência dos países do ?bloco geocivilizatório? das Américas em negar a herança viva da África em suas terras. O professor citou como exemplos países cuja população tem maioria ou quase-maioria negra, entretanto, pateticamente, declaram-se brancos, como República Dominicana, Cuba, Panamá, Colômbia, Porto Rico e Venezuela. Para Moore, tal postura - adotada com várias nuances ao longo de todo o continente americano - revela que as nações se envergonham da presença africana, como se fosse uma mancha, e isso precisa ser combatido. ?A negação da presença física de uma população traz necessariamente a idéia de um genocídio, porque manifesta o desejo do desaparecimento dessa população?, denuncia, apontando como exemplo a ?invisibilização? do negro promovida pela mídia, que vende como padrão a cultura branca, dando pouco ou nenhum espaço à representação dos afrodescendentes, que hoje são mais de 215 milhões nos três componentes geográficos da América: América do Sul e Central (150 milhões), América do Norte (40 milhões), e o Caribe (25 milhões).
Platéia cheia e atenta
Por outro lado, o professor Moore falou dos conceitos de negritude e pan-africanismo, criação das diásporas afro-americanas, que conferem a familiaridade entre as 60 diferentes culturas afrodescendentes nas Américas. Para isso, ele lançou mão de um panorama histórico, traçando os elementos em comum no processo de formação destas culturas, destacando a escravidão racial, a diáspora e o esfacelamento das estruturas religiosa, familiar e lingüística dos povos africanos que foram trazidos às Américas entre os séculos XVI e XIX. E Moore chega até a atualidade: ?As diversas culturas afrodescendentes dos países americanos foram criadas a partir da socialização de indivíduos atomizados. Por isso, hoje em dia, a cultura do negro argentino é familiar ao negro brasileiro, que é diferente da cultura dos brancos nestes países, por exemplo?.
A questão da negritude também foi colocada enquanto elemento importante para o rompimento com a idéia ilusória da existência de uma ?democracia racial?, um aspecto fundamental para a recuperação da consciência histórica e cultural da população afroamericana, assim como para sua emancipação.
A questão da negritude também foi colocada enquanto elemento importante para o rompimento com a idéia ilusória da existência de uma ?democracia racial?, um aspecto fundamental para a recuperação da consciência histórica e cultural da população afroamericana, assim como para sua emancipação.
Carlos Moore chamou atenção ainda para a estratégia de lenta dizimação da população afrodescendente praticada na após abolição por países latino-americanos, que expuseram ex-escravos negros à miséria, fome e doenças. Disse que como corolário dessa política, esses países também fomentaram uma enorme imigração especificamente branco-europeia com o fim de ?branquificar? os países de América e do Caribe. Finalmente, com a abertura para os debates com o público, o professor esclareceu questões políticas e culturais de países específicos, como Haiti, Libéria, Estados Unidos e regiões como o Caribe, além de tratar da colonização e divisão geográfica do continente africano e da atual exploração turística das religiões de matriz africana.
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