Um olhar ainda torto sobre produção – Fernanda Barbosa


Foto: @anandona
Edição: @pulalong

Eu sempre tive vontade de estar onde estou, não exatamente assim, mas exatamente aqui. Não é no palco, mas é um processo sobre como fazer existir vida no palco. Produzir refere-se a tudo que está por trás de exercícios de respiração, de dicção, de voz, de corpo, por trás do que a gente executa no tablado. Saber de cada burocracia, de cada etapa, de cada comunicação, perceber como fazer uma ideia ser vendida, porque ela precisa além de existir, ser consumida. No final, há um propósito pela qual essa ideia está sendo disseminada.

A produção é a forma que a arte tem de ganhar vida, através de parcerias, de colaborações para que esse contato com a sociedade não se perca, para não esquecer que tem um motivo, principalmente nos dias atuais, para saber trabalhar, para construir um produto de boa qualidade. Essa experiência tem me provocado também para pensar sobre qual é o meu lugar na Universidade Livre do Teatro Vila Velha. Eu não sei ainda o que é exatamente, mas eu estou explorando onde e como me encaixar nesse meio que é uma grande cadeia artística, onde um ajuda o outro, diferente da cadeia alimentar, onde que um come o outro. Não quero comer nem consumir ninguém, apenas colaborar, aprender com todos e me descobri. 

Tem sido também um trabalho de detetive, viu? Me sinto a própria Tintim desvendando e descobrindo um caminho para entender o que está acontecendo a minha volta. Talvez eu queira entender demais? Talvez, mas a graça da produção é que você já entende executando. Pelo menos aqui, que estamos diariamente em contato com os elementos que temperam o aço que é construir e sobreviver junto de um teatro que tem uma história retada e longa e que não deve e nem pode ser esquecida.

A lógica da Livre é que a gente entenda realmente o que é fazer teatro, o que é fazer teatro na Bahia, que possamos ter ferramentas para criar seja de forma independente ou em grupo, mas que sempre exista o contato com esse universo plural do teatro, que apesar de não ser nada místico, ainda é associado a tabus. A ideia de que o artista é vagabundo, a ideia de que um artista não trabalha, não produz, não gera renda, a ideia de que a gente vira a bunda pra lua e brinca uns com outros em um grande bacanal semanal regado a drogas e dissimulação, é um tabu. A produção mostra como a gente pode dialogar ainda mais com as outras áreas e desmitificar isso, porque tudo se dá na base do contato, da comunicação, é necessário saber usar nossos conteúdos para conseguir a melhor forma de executar a ideia e resignificar o imaginário social sobre o que é fazer teatro.

Produzir é resolver b.o, é dialogar, é correr atrás, é fazer muita coisa da qual eu sinceramente queria me ausentar, mas que é necessário para estar exatamente onde eu quero estar. A arte é minha vida. Minha mente, eu até acho criativa. Mas o que fazer com as ideias? A produção tem me dado o que eu quero saber, como executar, como tornar os sonhos reais.

Fernanda Barbosa
Universidade Livre do Teatro Vila Velha

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