Marcio Meirelles à luz e à sombra de Peter Pan
O
diretor teatral cruza as fronteiras ultramarinas e explora outros
territórios cênicos
Por Arlon Souza
No
Dia Mundial do Teatro deste ano (27/03), Marcio Meirelles estreou no
Teatro Viriato, na cidade de Viseu, em Portugal, o espetáculo
“Sempre em frente até amanhecer”, numa incursão dramatúrgica
pela história de Peter Pan, de J.M. Barrie (1860-1937) e a obra
Indignai-vos!, do autor franco-alemão Stéphane Hessel (1917-2013).
O
espetáculo é o último da trilogia K CENA – Projeto Lusófono de
Teatro Jovem, num intercâmbio entre Portugal, Brasil e Cabo Verde,
que reuniu 14 jovens portugueses com idades entre 14 e 17 anos. No
trabalho, os adolescentes apropriam-se das obras de J.M. Barrie e
Hessel para a construção do próprio discurso cênico, levantando
questões de identidade, cidadania e política, buscando desenvolver
o prazer pela escrita e pela interpretação teatral, num contexto de
valorização da língua portuguesa e de fortalecimento das relações
pessoais.
A
partir do drama de Peter Pan, que se recusa a crescer para não ter
que assumir a vida adulta, cheia de regras e obrigações, o grupo
questiona a responsabilidade pela herança das crises econômicas
atuais, como o legado da crise econômica européia, e a liberdade
deles em se posicionarem diante desses problemas. Sobretudo, num
momento em que o mundo clama por Democracia e Direitos Humanos, a
obra de Hessel traz à tona a consciência do que pode se transformar
a partir da capacidade que o ser humano tem de se indignar.
“Nós
estamos vivendo num mundo globalizado, onde jovens do mundo inteiro
se conectam, e onde, evidentemente, eles estão preocupados com esse
estar no mundo. O adulto e a criação são metáforas. Não é uma
questão de idade ser Peter Pan, é uma questão de manter o Peter
Pan vivo”, reflete o diretor teatral Marcio Meirelles. Por
mais que a montagem soe como um manifesto jovem, o trabalho é cheio
de despojamento, leveza e lirismo, a exemplo da cena acompanhada ao
som de um violino, enquanto os jovens narram as aventuras de Peter
Pan.
Com
muita música ao vivo, marcada por canções do rock desta e de
outras gerações, a encenação imprime bem as marcas de direção
de Meirelles, desde a criação coreográfica, passando pela execução
dos instrumentos pelos próprios jovens e pela proposta de sonoridade
percussiva, à polifonia de vozes dissonantes.
Há
ainda, pela percepção de experiências mais recentes, como “Bença”,
“Drácula” e “Dô”, o uso da projeção de vídeo. Ao final,
o diretor teatral pontua novamente a sua assinatura, encerrando com
uma citação ao Bando de Teatro Olodum, na qual o elenco levanta o
braço direito com mão fechada em punho, em agradecimento ao
público.
À
luz de Peter Pan e em constante busca de sua própria sombra,
Meirelles demonstra querer descobrir ainda mais de sua arte, e mesmo
de sua identidade, através do vigor criativo da juventude.
“Se
vocês acreditarem neles, as fadas voltam a nascer. Assim como eles
se transformaram, eu também me transformei. É possível ter
esperança”, confia o diretor.
Comentários
Postar um comentário