Conheça a orquestra de pagode liderada por Hugo Sanbone*



Sanbone. Antes de “p” e “b” só se coloca “mê”, diriam os gramáticos e foneticistas ao acusarem erro na grafia da palavra. Mas o nome da Sanbone Pagode Orquestra é escrito assim mesmo, com “nê” antecedendo “b”. 

Criado em novembro de 2009, o grupo é composto por cerca de 25 músicos – uns fixos, outros nem tanto, comandados pelo maestro Hugo Sanbone. “Como todo mundo toca em outras bandas, já que a Sanbone Pagode Orquestra não se sustenta, a gente encontra a dificuldade de acertar as agendas, de conciliar. Por isso, há outros músicos parceiros que colaboram com a gente quando alguns desses 25 músicos faltam”, conta o maestro em entrevista ao Bahia Notícias. E é na origem do nome artístico de Hugo que reside a explicação do nome do grupo. Autodidata, o sergipano começou a tocar aos nove anos na orquestra infanto-juvenil Lourival Batista de Aracaju. O encontro com o pagode, inclusive, se deu na capital sergipana, mas foi em Salvador – para onde se mudou em 2000 – que a sua habilidade com a sanfona e com o trombone foi aperfeiçoada devido às diversas passagens por grupos de forró e pagode. Habilidade esta que originou o sobrenome Sanbone [san(fona) + (trom)bone]. Por isso o “nê” antes do “b”.

A partir dessas experiências Hugo passou a conhecer melhor a riqueza musical de Salvador, do Recôncavo e da Bahia, de modo geral. “Comecei a colher material para meus estudos e só depois comecei a compor. Nessa época eu ainda não tinha grupo, nem estava formatado em minha cabeça como ia juntar os músicos, mas já tinha definido como seria a música com qual iria querer trabalhar”, relembra.

Os inspiradores do grupo são muitos, mas bem diferentes. De um lado, os russos Stravinsky e Tchaikovsky e o austríaco Mozart. De outro, o trabalho de bandas como Harmonia do Samba e Psirico – da banda liderada por Márcio Victor, classificada por Hugo como “responsável por um dos trabalhos rítmicos mais ricos que o pagode da Bahia já teve”, o maestro destaca o projeto “Psirico Experimental”, no qual ele participa na confecção dos arranjos e nos metais. No entanto, todas essas referências se juntam na Sanbone na tentativa de adaptar o pagode, um dos gêneros musicais de maior sucesso na Bahia, à erudição de uma orquestra. A orquestra de pagode se propõe a aproximar as características de fácil assimilação e consumo do pagode, de uma abordagem mais qualitativa e elaborada deste ritmo. Segundo o maestro, a junção entre os dois estilos é muito tranquila, inclusive para os músicos na hora das apresentações. “É muito tranquilo, porque a nossa proposta é fazer uma música de qualidade, com qualidade, respeito e seriedade. Mas isso não quer dizer ser rabugento, nem sisudo, nem arrogante. A gente sabe que o universo da música popular é mais leve, a gente toca se divertindo. Na orquestra é um pouco diferente. Mas brincar não quer dizer que não seja uma coisa séria”, explica.

Todas as canções do repertório compostas pelo maestro Hugo Sanbone possuem duração que varia entre a sinfonia, com execuções mais extensas, e a música feita para tocar em rádios, com durações mais curtas. Assim, as músicas têm duração que vão de seis a dez minutos e todas levam o nome de sinfonia, como a Sinfonia Primeira de Pagode (canção vencedora do VII Festival de Música da Educadora FM de Salvador e do Festival Nacional das Rádios Públicas).

Para ele, o processo de composição é natural. “Como eu sempre gostei de estudar vários instrumentos, eu pude conhecer a essência de cada um, como cada um funciona e qual sonoridade tem. Isso facilitou muito o processo de composição de uma sinfonia completa, já que eu sempre pensei em montar um grupo grande, que tocasse muitos instrumentos”. Sem nunca ter estudado música formalmente, Sanbone pensa em entrar na Faculdade de Música ainda este ano, para estudar Composição.

Dentre os destaques da banda, estão a Sinfonia Profundo Oceano Azul e a Sinfonia Sétima de Pagode, que faz referência à Estação da Lapa. “Aquela movimentação que acontece na Lapa, vai e vem de pessoas, carros, ambulantes, ônibus, buzinas inspirou a composição da sinfonia. Inclusive, essa composição veio a pedido de um amigo que queria fazer um documentário sobre a Estação da Lapa. A sinfonia começa com o amanhecer na Lapa até o silêncio total da madrugada, aquela melancolia, pessoas solitárias dormindo na rua. No terceiro movimento a gente representa a diversão dos trabalhadores, dos estudantes, com o pagode mostrando como é o final de semana na Lapa”, explica. Tudo isso, no entanto, não é dito com uma palavra. Questionado sobre a suposta pobreza das letras de pagode, Sanbone é enfático. “Eu tenho uma opinião formada que na maioria das vezes eu prefiro me abster, mas, brevemente, acho que isso tem a ver com a escolha de cada um. A minha escolha é trabalhar o ouvinte. Há músicas que eu adoro as letras, por exemplo, as de Harmonia do Samba. Eu não condeno, mas também não apoio. Eu acho que o que eu posso fazer é dar minha contribuição”, conclui.

A Sanbone Pagode Orquestra começou bem em 2013. O grupo agora é residente do Teatro Vila Velha. Com o novo posto, mais ensaios abertos e shows poderão ser feitos; a previsão é de que aconteça, pelo menos, uma apresentação por mês. A Sanbone busca captar recursos e patrocínios para colocar em prática também o projeto-piloto de uma escola de educação musical, a qual culminará com a formação de uma orquestra juvenil.

*Matéria publicada no Bahia Notícias

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